As poucas condições financeiras e estruturais dos agricultores familiares impedem o uso seguro de agrotóxicos no Brasil. A conclusão integra a tese de mestrado defendida pelo farmacêutico Pedro Henrique de Abreu na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. O estudioso entrevistou 136 trabalhadores rurais de Lavras, em Minas Gerais, onde observou que as normas da Lei dos Agrotóxicos e as recomendações dos manuais de segurança não são cumpridas.
As medidas contemplam seis etapas: compra, transporte, armazenamento, preparo, aplicação e destinação final das embalagens e dos equipamentos. Em todas elas, segundo o pesquisador, faltam informações ou recursos aos agricultores, que acabam sendo responsabilizados sozinhos pelo uso indevido dos insumos. Ele critica as indústrias e as instituições públicas de saúde, meio ambiente e agricultura.
A técnica agrônoma da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, responsável pela fiscalização do uso e da venda no Estado de São Paulo, Ana Beatriz Veronezi, rechaçou a crítica, mas reconheceu as dificuldades em comunidades pobres e que não estão organizadas em cooperativas. Já o Gerente de Educação e Treinamento da Associação Nacional de Defesa Vegetal, Fábio Kagi, alega que as indústrias cumprem o que é estabelecido, como a recolha de embalagens vazias, e desenvolvem programas para o uso adequado dos agrotóxicos.
Enquanto o debate acontece e o uso dos agrotóxicos por grande parte dos trabalhadores rurais segue de forma indiscriminada, estudos relacionam os pesticidas à incidência de doenças como o câncer.