Aqui fora falta educação, lá dentro a busca pela educação que faltou

A vida tem duas faces, a positiva e negativa. O trecho é do poema “Assim eu vejo a vida” de Cora Coralina. 

Enquanto que do lado de fora das prisões escolas de Campinas são destruídas e saqueadas, na penitenciaria feminina a alfabetização surge como esperança para a ressocialização.

São 470 detentas e uma sala de aula. Quando estivemos no local, oito presas tinham caderno e lápis em mãos. A aula era de português e a escolha da professora para ilustrar a disciplina foi pela poetiza que só ganhou visibilidade como escritora após os 80 anos de idade.

Uma das alunas é Edna Regina Rocha de 45 anos que cumpre pena por tráfico de drogas desde 2015. Entrou analfabeta e hoje, vê que se tivesse estudado, talvez a história fosse diferente.

Alexsandra Geni de 35 anos também é alfabetizada dentro da cadeia. Ela reconhece não ter dado valor aos estudos e se arrepende por ter dado brecha ao tráfico.

Presas, Edna e Alexsandra me contaram que tempo para refletir é o que não falta. Não ter estudado é um dos pensamentos que pesa.

Enquanto elas pensam, quem tem a oportunidade às vezes também perde a chance de estudar por não valorizar ou ser prejudicado por quem não valoriza.

Depredações em escolas estaduais já causaram um prejuízo de R$ 331 mil só na região de Campinas entre 2016 e 2017. Um dos casos mais avassaladores aconteceu na escola estadual Newton Pimenta Neves, na região do Ouro Verde, onde quatro salas de aula foram destruídas por um incêndio criminoso, acabando com todo material didático e deixando os alunos sem aula. O mais recente foi neste final de março na Escola Estadual Jardim Marisa com a invasão de vândalos que destruíram toda a biblioteca. Cenas que causam indignação.

O poema que introduziu essa reportagem termina com tais versos:Nasci em tempos rudes. Aceitei contradições, lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo. Aprendi a viver.”

Quem está prisão aguarda com ansiedade a liberdade. No caso das detentas entrevistadas por nós, a pretensão é ser livre, inclusive, para continuar os estudos.

As presas que chegam sem alfabetização na penitenciária de Campinas são minoria. Mais de 50% delas têm ensino médio e algumas, até o ensino superior. Além da alfabetização, no presídio há outras atividades de qualificação, que podem ser feitas diante da vontade das presas.

A penitenciária feminina de Campinas tem hoje mulheres de 19 a 65 anos, sendo a maioria detida por conta do tráfico. Elas cumprem em média de dois a três anos de prisão.

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