O Hospital de Clínicas da Unicamp (HC) suspendeu novas internações na UTI Pediátrica e também na Enfermaria Pediátrica em 17 de julho. Na ocasião, o HC alegou superlotação, já que estaria atendendo 14 pacientes com ventilação mecânica na UTI, enquanto a capacidade é de 10 crianças. Inicialmente a suspensão duraria 24 horas, mas foi prorrogada pelo mesmo período por oito vezes, até o dia 25, quando o hospital voltou a realizar novas internações.
E o problema também se deu com recém nascidos, pois em 23 de julho o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher, o Caism da Unicamp, anunciou a suspensão de novas internações de recém-nascidos por um período de 24 horas, também por conta da superlotação da UTI Neonatal da unidade.
O Caism alegou que o local estava atendendo 22 pacientes, sete a mais que a capacidade, de 15 recém nascidos. Poucas horas depois, a Maternidade de Campinas tomou a mesma medida, pelo mesmo motivo, afirmando que os 40 leitos de UTI da unidade estavam ocupados.
Na ocasião, a Diretora do Caism, Dra. Heliane Milanez, relatou a dificuldade enfrentada pelo hospital estadual. “O problema é que somos considerados o final da linha, a central (de vagas) não nos vê como geradora de transferências, mas como receptora de bebês de todo o estado, especialmente de nossa área, a DR 7”.
A Maternidade normalizou o atendimento após 24 horas de suspensão de novas internações. Já o Caism da Unicamp prorrogou a suspensão por alguns dias, e até ela ser encerrada no dia 26.
As suspensões de internações não são novidades em Campinas. O HC da Unicamp suspende internações na UTI pediátrica por conta de superlotação ao menos uma vez por ano desde 2015. Uma das alegações é o aumento da procura pelos serviços de saúde durante o inverno, devido ao tempo frio e seco, que aumenta o número de casos de doenças respiratórias em crianças.
Profissionais da área apontam também outros fatores. O delegado do Conselho Regional de Medicina, Marcelo Conrado, afirma que as 35 vagas existentes em UTIs pediátricas na rede pública de Campinas até seriam suficientes para o tamanho da cidade.
Porém, o HC da Unicamp, e o Hospital Estadual de Sumaré, que tem outras cinco vagas em UTI Pediátrica e também é administrado pela Unicamp, são referência para os Departamentos Regionais de Saúde 7 e 14, que somados atendem 62 cidades, com uma população de cerca de 5 milhões de habitantes. “Os únicos hospitais de referência que tem UTI são o HC da Unicamp e o Hospital Estadual de Sumaré, que são referências para todas as cidades da DRS 7 e da DRS 14, uma população muito maior que só a cidade de Campinas”;
E o problema não se resume à estrutura física, uma vez que quanto maior o número de pacientes, maior a necessidade de profissionais. De acordo com o Médico e Diretor da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marun David Cury, o déficit de profissionais na rede pública ocorre por razões como falta de plano de carreira, falta de estrutura de trabalho adequada, e remunerações mais baixas do que as oferecidas na rede privada. “Posto de saúde e hospitais públicos o médico ganha um terço do que ganha em rede privada. Essas especialidades como pediatria e clínica médica não tem muitos procedimentos médicos, então a tendência dele é migrar para locais onde há melhor remuneração”.
O secretário geral do Sindicato dos Médicos de Campinas, Tarcísio Rabelo da Silva, afirma que há anos a Prefeitura de Campinas não realiza concursos públicos para a contratação de novos médicos.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que o Departamento Regional de Saúde de Campinas, o DRS 7, tem mais de 130 leitos para atendimento pediátrico pelo SUS, incluindo leitos de internação e UTI.
E a Secretaria de Saúde de Campinas informou que os leitos sob gestão municipal estão dimensionados de acordo com a necessidade do município, e que todas as crianças que necessitam de UTI neonatal e de tratamento semi-intensivo são atendidas.