Jonas: Vou disputar as eleições de 2022. Gostaria de percorrer um caminho por onde não passei

Entrevista: Henrique Bueno

Texto: Henrique Bueno e Leandro Las Casas

Se preparando para o último ano de seu mandato frente à prefeitura de Campinas, Jonas Donizette, do PSB, revela ter ainda outras ambições na política. Ele garante que vai disputar as eleições de 2022 e que não pretende estar em cargos que já ocupou. Eleito vereador em Campinas por três vezes, deputado estadual por duas vezes, deputado federal e prefeito, Jonas quer seguir em frente na carreira política. Para isso, quer estar presente nas discussões sobre sua sucessão. Temendo extremismos, ele mantém o tom moderado ao tratar do presidente Jair Bolsonaro e disse ser próximo ao governador João Doria. Ciente dos problemas na saúde pública de Campinas, Jonas Donizette comenta ainda as investigações do caso Ouro Verde e quer esperar uma decisão da Justiça antes de se posicionar sobre Sílvio Bernardin, seu ex-secretário de negócios jurídicos que foi preso durante as investigações do Ministério Público. O prefeito criticou ainda a decisão judicial que determinou a perda de seus direitos políticos por causa da contratação de funcionários comissionados e também seus adversários, a quem chamou de desleais.

Futuro político e sucessão

Jonas Donizette se prepara para entrar em seu último ano de governo. Mas o fim da administração municipal em Campinas, não deve significar o fim da vida pública. Jonas afirmou que vai disputar as eleições de 2022. “O que eu posso afirmar é que vou me candidatar. Eu não gostaria de passar por caminhos por onde eu já andei. Eu gostaria de caminhos novos. Eu gostaria de olhar para frente, mas sinceramente, eu não saberia dizer qual seria esse caminho”, afirma. Deste modo, o desejo do atual prefeito de Campinas é olhar para uma disputa pelo senado, governo do estado ou ainda a composição de uma chapa na corrida presidencial. No curto prazo, Jonas deve dedicar parte de seu tempo após o fim do mandato às aulas. “Eu tenho duas ofertas para quando deixar a prefeitura, para ser professor visitante em John Hopkins, em Washington, e Columbia, em Nova York. São cursos que são dados por ex-prefeitos, que falam sobre suas experiências”, revela. Para ter sucesso em seu plano pessoal na política, Jonas entende que seu governo em Campinas precisa ter sequência e por isso garante que está à frente das discussões sobre sua sucessão.

“O Rafa Zimbaldi é um nome muito forte. O Luiz Lauro, até por ser meu parente, não. Acho que o Wandão se apresenta como uma alternativa interessante”

https://youtu.be/IVtyjBrhlWE

Alguns nomes dentro do PSB surgem como possíveis candidatos à prefeitura. O mais forte deles é do deputado estadual Rafa Zimbaldi. O ex-deputado federal e sobrinho de Jonas, Luiz Lauro Filho, também surge como possibilidade. Ainda sem ter uma definição, Jonas demonstra que é a pessoa que vai decidir os rumos de sua sucessão, mas garante que quer ouvir as pessoas. “A grande armadilha nesse momento é a prepotência e eu procuro fugir disso. As pessoas têm interesse em minha opinião, então eu penso que a gente não poderia entregar na mão de uma pessoa que não tem a dimensão de um cargo desses. Eu tenho medo daqueles que são extremistas, porque isso não combina com a cidade”, afirma. Jonas revela quais são os nomes que estão na mesa e ressalta suas qualidades. “O Rafa é um nome muito forte. Eu lancei ele com meu número e ele foi o deputado estadual mais votado de Campinas. É um bom nome. O Luiz Lauro, não. Ele foi bem votado nas últimas eleições e é o primeiro suplente do PSB. Ele tem muita chance de entrar no ano que vem. Até por ser meu parente, ele não”, afirma.

Porém ele acredita que outros aliados podem surgir como alternativa nesse cenário. “Nas pesquisas, os candidatos que estão pontuando mais a frente, quase todos tem uma ligação comigo. O Wandão (Waderlei de Almeida, secretário de relações institucionais de Campinas) me agrada muito. Muita coisa que a gente conseguiu, foi pela atuação dele. Ele é muito simples e acho que seria algo diferente. Tem o (deputado federal) Carlão Sampaio, mas acho que ele está focado mais no legislativo federal. Tem o Henrique Magalhães Teixeira, meu vice, uma pessoa muito leal e correta. Tem também o Dario Saadi e o Samuel Rossilho. Enfim, são boas alternativas”, diz.

Bolsodoria e a Frente Nacional dos Prefeitos

“Quando eu não sei sobre alguma coisa, eu busco gente da minha confiança para me ajudar. Falta isso ao Bolsonaro, ter alguém que diga ‘menos'”

https://youtu.be/gXGniCMTtiw

Presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, Jonas Donizette diz ter trânsito facilitado no Congresso Nacional e também junto à equipe de governo do presidente da República, Jair Bolsonaro. Desde que o capitão reformado do Exército se elegeu, Jonas sempre adotou um tom moderado ao falar do presidente e de suas políticas. Paralelo a isso, ele tem de lidar com as determinações de seu partido, o PSB, que se posicionou como oposição na esfera nacional. “Eu acho que na política, como na vida, cabe tudo, só não cabe você ser aquilo que você não é. Você falou do Bolsonaro. Ele é daquele jeito, e deu certo. Eu não sou daquele jeito. Se eu for querer ser igual ao Bolsonaro, não vai dar certo”. Sutilmente, Jonas critica o modo de agir do presidente. “Eu, quando não sei muito sobre alguma coisa, eu trago gente da minha confiança para me ajudar. Eu acho falta isso ao Bolsonaro, ter alguém que fale ‘menos'”, diz.

A relação entre Planalto e partido ganhou novos contornos durante as discussões sobre a Reforma da Previdência. “Foi mais complicado nesse momento. O partido se posicionou contrário. Fui lá e defendi meu ponto de vista como prefeito”. Além de defender o texto, Jonas foi além e queria incluir estados e municípios na reforma. “Eu gasto R$ 600 milhões por ano para a previdência do serviço público. A obra do BRT, que vai beneficiar milhares de pessoas na cidade, custou pouco mais de R$ 500 milhões. Se os municípios entrassem na reforma, nós teríamos a capacidade de realizar uma obra desse tamanho por ano”.

Nas eleições de 2018, Jonas coordenou a campanha de Márcio França, então governador do estado, que tentava a reeleição. Mesmo com a derrota, ele garante que a relação com João Doria, que se elegeu, não sofreu alteração. “Nas discussões para a formação das chapas, as pessoas levantaram a hipótese de me colocar como vice. Não podia aceitar, pelo compromisso que tenho com Campinas. Mas, de todo modo, mantemos a mesma relação de antes da eleição. Eu perguntei a ele se ficou algum resquício sobre a eleição e ele me disse que de modo algum”, garante.

Saúde Pública e Caso Ouro Verde

As principais críticas que recebe ao longo dos últimos anos frente à prefeitura de Campinas estão ligadas à saúde pública. O atendimento demorado nas unidades de saúde da cidade, a falta de médicos, estrutura e medicamentos, além da falta de recursos para investimentos, são apontados por órgãos como o Conselho Municipal de Saúde e a Comissão de Saúde da Câmara, como o calcanhar de Aquiles da atual administração. “Não escondo que tem problemas, que tem desafios, mas o que acontece é que entre 2016 e 2017, aumentou em 40% o número de atendimentos na rede. Isso aconteceu por vários motivos, mas é como se a gente passasse a atender uma cidade do tamanho de Ribeirão Preto”.

Diante dessa situação e da insatisfação de grande parcela da população, a área ainda sofreu um duro golpe escancarado no esquema de corrupção no Hospital Ouro Verde. “Aquilo que não nos derruba, nos fortalece. Eu sofri. Sofri por injustiça, sofri por maledicência. Passei por uma Comissão Processante sem ter feito nada ilegal. Não tinha obrigação de comparecer, mas fiz questão de ir responder as perguntas do vereador que me acusou (Marcelo Silva, do PSD). No fim das contas, até o delator do esquema disse que eu não sabia de nada” diz. Jonas Donizette não poupou Marcelo Silva de crítica e o chamou de desleal. “Na verdade, houve uma orquestração, vários atores, eu não vou nominar aqui. Fui à câmara, fiz um enfrentamento duro com o vereador que me acusava. Ele foi um ex-funcionário meu, uma pessoa que se prevaleceu do meu governo para ganhar um mandato e se voltou contra mim. Isso para mim é imperdoável. Tem nome isso. Essa pessoa não foi leal”, afirma.

“O que fizeram com ele foi desumano. Prenderam, algemaram e rasparam a cabeça dele. Não vou julgar o Silvio sem que antes a justiça dê uma sentença”

https://youtu.be/FhFJN7GPn6k

O escândalo causou o maior golpe sofrido pelo atual governo municipal: a prisão do então secretário de negócios jurídicos de Campinas, Sílvio Bernardin, homem de confiança de Jonas Donizette. O caso colocou em xeque a credibilidade do governo municipal, ao colocar na cadeia um dos braços direitos do prefeito. Para Jonas, as coisas aconteceram de maneira exagerada. “Como podem prender um homem sem que tenha havido uma sentença? Ele não foi condenado, não tem nenhuma condenação. Foi preso, ficou 80 dias preso, teve a cabeça raspada. Quando veio depor, foi algemado, sem que ele pudesse oferecer risco algum à sociedade. Eu não vou acusá-lo sem antes ter uma sentença judicial”.

O exagero também é usado pelo prefeito para outro revés na administração pública: a condenação e a perda de seus direitos políticos por causa da contratação dos comissionados da administração. Jonas afirma que a sentença foi desproporcional e que o Supremo Tribunal Federal concedeu uma liminar enquanto o recurso é julgado: “Eu estabeleci um limite de contratações. Fiz uma lei, a Câmara aprovou. A promotoria da cidade apresentou uma denúncia e 10 cargos foram questionados. Eu achei razoável. Mas na segunda instância, uma desembargadora tomou essa decisão e mandou que eu demitisse todo mundo. Se eu fizesse isso, a cidade parava”, garante.

Câmara Municipal e base ‘chapa branca’

“Minha relação com a Câmara tem outro nível. Não tem promiscuidade.”

https://youtu.be/xha7QepDxwk

Desde que assumiu como prefeito, Jonas Donizette sempre contou com um forte apoio na Câmara Municipal. Dos 33 vereadores, 25 são declaradamente da chamada base de sustentação do governo municipal. Por conta disso, projetos de lei do executivo são aprovados com facilidade e pedidos de abertura de comissões processantes e de inquéritos para investigar os atos da administração pública geralmente são barrados (a exceção foi a CP do Ouro Verde, que inocentou Jonas do escândalo de corrupção no hospital público municipal). Essa relação levantou muitas suspeitas e acusações de que o legislativo municipal seria ‘chapa branca’. “O que acontece aqui, todo mundo sabe. Minha relação com a Câmara é outro nível. Não tem essa promiscuidade, coisa que já teve no passado”, garante.

Para o prefeito, a boa relação com grande parte do legislativo se dá através do respeito. “O vereador tem mandato, ele foi eleito. Quando eu vou fazer alguma coisa no bairro, eu ouço o vereador, eu pergunto a ele o que precisa ser feito. Quando eu entrego a obra, eu falo do trabalho do vereador. A pessoa quando é bem tratada, se sente valorizada. Então a gente tem um bom relacionamento”, finaliza.

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