Entrevista: Leandro Las Casas e Flávio Paradella
Texto: Leandro Las Casas, Henrique Bueno e Flávio Paradella
Em seu segundo mandato como vereador, Marcos Bernardelli, PSDB, tem uma trajetória meteórica dentro da Câmara de Campinas. Após ser reeleito pela primeira vez em 2016, ele se tornou líder de governo e dois anos mais tarde, presidente da Casa. Na liderança do legislativo, ele se orgulha do que chamou de organização das finanças, gerando economia e devolvendo mais de R$ 30 milhões aos cofres públicos. Dono de opiniões fortes, ele critica a ação de instituições que fornecem comida aos moradores de rua e nega que o legislativo municipal seja conivente com as ações do executivo.
Deterioração do Centro
A deterioração do Centro de Campinas é uma realidade que há muito tempo incomoda a população da cidade. Mesmo com a reforma e a revitalização da Avenida Francisco Glicério, a situação parece que piora a cada ano. As vias paralelas à grande avenida vão se deteriorando e servindo de abrigo para moradores de rua, que vão se concentrando nesses locais. Defensor da Casa da Cidadania, o presidente da Câmara, Marcos Bernardelli, é crítico às ações desenvolvidas por instituições de caridade. “Precisamos de locais como a Casa da Cidadania, construída na Rua Sales de Oliveira. Lá o morador de rua tem condições de entrar, fazer sua higiene pessoal, se alimentar e dormir. É isso que o poder público tem de fazer para ajudar essa população”, disse.
Com a crise econômica dos últimos anos e o desemprego atingindo índices alarmantes, naturalmente a população em situação de rua foi crescendo ao longo dos meses. Deste modo, várias instituições de caridade atuam oferecendo alimentação a eles. Bernardelli não concorda com esse tipo de trabalho filantropo e defende a implantação de políticas públicas, como a casa da cidadania. “Às quintas-feiras, se você rodar o Centro, vai ver que o morador de rua recebe cinco pratos de alimentos por dia. Não é possível, ele não vai comer, não vai se servir disso tudo. E onde ele vai fazer as necessidades mínimas deles? O trabalho está sendo feito com a segunda Casa da Cidadania, que está sendo finalizado ali na região do Mercado Central”, afirma.
Bernardelli ainda criticou o trabalho realizado pelas entidades. “Eu sou um crítico contumaz disso aí. Não venha me dizer que dar um prato de comida vai abrir a porta do céu. Não vai”, sentencia.
Câmara cartório
Uma das maiores críticas que a atual legislatura recebe é o estreito relacionamento com o poder executivo. A grande maioria dos parlamentares, entre eles o presidente Marcos Bernardelli, integra a base de apoio ao governo Jonas Donizette, do PSB. São 24 dos 33 vereadores que compõem o grupo. A facilidade com que o executivo consegue aprovar seus projetos permitiu a criação, por parte da oposição, de um termo chamado ‘Câmara Cartório’. Bernardelli rechaçou a alcunha e atacou os opositores. “Todos os projetos aprovados, seja do executivo ou não, não tiveram nenhum equívoco. Fizemos todos os debates. Os vereadores de oposição sempre falam que não houve debate suficiente, mas no dia em que acontece, ninguém aparece. Então este é um argumento pueril e que cai por terra”, disse. “Não se trata de um cartório, tudo que foi apresentado eu levei para a discussão. Ali a maioria prevalece”, garante.
Bernardelli afirma ainda que Campinas está totalmente representada na atual configuração do legislativo municipal. “Temos uma representação fidedigna da população campineira. A cidade está bem representada”. Ele cita as diferenças das regiões da cidade como um problema que vem sendo enfrentado com sucesso pela câmara municipal. “A Campinas, do Cambuí estendido, é a nossa Campinas. Mas a maioria daqueles que aqui residem, lamentavelmente não conhece a outra Campinas, dos 750 mil habitantes (que vivem nas regiões periféricas da cidade). Apesar disso, a composição da Câmara é bem representativa”, finaliza.