Os médicos das unidades de pronto atendimento de Campinas temem que a falta de equipamentos de gasometria arterial afete a identificação entre pacientes do novo coronavírus e pessoas com outras doenças respiratórias.
O item também é apontado como fundamental para evitar a intubação desnecessária de outros quadros graves, fazendo com que os respiradores fiquem livres para infectados com a covid-19 que necessitem da medida.
As informações foram reunidas em um documento enviado ao presidente da Rede Mário Gatti, doutor Marcos Pimenta, à Câmara dos Vereadores e ao Conselho Municipal de Saúde e solicita a compra emergencial da ferramenta.
Um dos médicos que assina o texto, que não quis ser identificado e solicitou a alteração da voz, explica que a gasometria serve para analisar o sangue dos pacientes mais graves e é importante contra as paradas cardiorrespiratórias.
“Por exemplo, em um paciente com potássio muito alto no sangue e que o coração começa a parar, você faz uma gasometria na hora e na sala da emergência e descobre a situação, dá a medicação e salva o paciente”, diz.
No caso da pessoa com coronavírus, além de facilitar a identificação da insuficiência respiratória e evitar o uso de respiradores, o médico afirma ainda que o equipamento serve para ajustar os chamados parâmetros ventilatórios.
“Depois que a gente entuba um paciente, a gente precisa da gasometria pra regular os parâmetros do ventilador e isso é muito importante pra controlar o oxigênio e o CO2. Não tem como fazer isso sem a gasometria”, explica ele.
Na carta, os profissionais alegam que, caso ocorra a “falta de leitos nos hospitais para transferência imediata, em função do rápido aumento dos casos de covid-19”, não será possível “adequar o ventilador à resposta orgânica do paciente”.
Por fim, argumentam também que “a estratégia de realizar os exames em laboratório central é inviável para a gasometria, já que o sangue tem que ser analisado imediatamente” pelo equipamento antes de perder as propriedades.
A Rede Mário Gatti de Urgência, Emergência e Hospitalar respondeu. Em nota, informa que “as UPAs Carlos Lourenço, Campo Grande, São José e Anchieta estão devidamente equipadas para atender pacientes do novo coronavírus”.
No comunicado, alega que o resultado do exame realizado pela gasometria “não é adequado para indicação ou não da intubação do paciente”. O que define isso é saturação de oxigênio, “obtido pelos oxímetros, que todas as UPAs possuem”.
Na concepção da rede municipal, “a gasometria é o equipamento indicado para pacientes que estão em observação hospitalar, ou seja, casos de maior complexidade”. Portanto, “não é indicado para pessoas atendidas nas UPAs”.