A flexibilização da jornada por conta da pandemia do novo coronavírus, permitida pela Medida Provisória 936, pode fazer a massa salarial da Região Metropolitana de Campinas cair 29%, de R$ 3 bilhões para R$ 2,1 bilhões.
Por mês, seriam R$ 857 milhões, atingindo mais de 640 mil trabalhadores. A estimativa é da economista do Observatório PUC Campinas, Eliane Rosandiski, e considera a adesão de 70% das empresas à MP feita pelo Governo Federal.
No estudo, foi identificado que a redução de jornada, seja de 25%, 50% ou 70%, vai impactar mais intensamente os maiores salários. Isso porque o valor do seguro desemprego pago pela União não compensa a diminuição salarial.
“Como existe um teto no seguro-desemprego, tende a afetar com mais intensidade os salários mais altos. Pra quem recebe R$ 1,4 mil não teria um grande problema, porque a complementação não traz qualquer perda”, diz.
Com isso, as perdas serão sentidas entre aqueles com maior escolarização na RMC, como os concluintes do Ensino Médio e do Ensino Superior, com vencimentos médios de R$ 2.469,17 e R$ 6.426,33, respectivamente.
Somente entre os trabalhadores da indústria, com remuneração média de R$ 4.105,69, se o corte de 70% for adotado, por exemplo, a queda da massa salarial deve ficar entre 51% e 55%, e por isso a economista prevê alguns impactos.
Entre eles, segundo Eliane Rosandiski, está a redução do poder de compra de grande parte da classe média e o possível recuo de setores como turismo e beleza. Por esse motivo, traça que a recuperação pós-pandemia será difícil.
“Eu acho pouco provável que na saída da crise a gente recupere o nível de emprego no exato ponto que estava antes do surto. Significa que a perda de remuneração da classe média resultará em perda para alguns setores”, estima.
Na opinião da professora do Observatório da PUC Campinas, a MP 936, válida inicialmente por três meses, deve ser prorrogada, mas não é suficiente para sanar os problemas enfrentados pelo País. E por isso propõe outras soluções.
Na visão de Rosandiski, a medida foca a proteção ao emprego, mas outras decisões deveriam ser tomadas pelo Governo Federal para contemplar também a renda, ainda que uma providência deste tipo precise de apoio orçamentário.