Antes da favela se tornar atração turística e estar presente nas telas em vários filmes de sucesso. Existia uma voz que dava identidade ao cotidiano das comunidades com um discurso ácido e provocador mas por outro lado sempre bem humorado . Mesmo contrário aos rótulos ele nunca aceitou o título, mas acabou a contra gosta conhecido como o embaixador da favela, e pensar que Bezerra da Silva só queria mesmo ter uma condição de vida melhor. Filho de família pobre José Bezerra da Silva, nasceu em 1927 em Recife e aos 15 anos deixou pra trás a sua dura realidade e foi para o Rio de Janeiro dentro de um navio cargueiro só com a roupa do corpo . Começou a trabalhar como pintor e foi viver no morro aonde integrou a bateria do bloco Unidos do Cantagalo . Bezerra passou por severas dificuldades e foi auxiliado por Jackson do Pandeiro em gravações como músico de apoio e até como compositor em algumas canções. Fernandes, o Doca, um dos compositores da música General da Banda , ajudou Bezerra da Silva a entrar no rádio como ritmista . Já nos anos 60 Bezerra já estava na orquestra da Copacabana Discos e depois passou pela orquestra da Rede GLOBO onde tocou violão de 1977 até 85. Bezerra já tinha lançado um compacto mas no final dos anos 70 que lançou os seus 02 dois primeiros lp’s intitulados O Rei do Coco .
Mas o sucesso só chegou em 1979 aos 52 anos com o samba de partido alto . Foi o inicio de uma temática que moldou todo o universo de Bezerra da Silva e construiu um estilo único e marcante. O som de Bezerra se desviou de tudo que era feito até então do lirismo dos sambas antigos ao romantismo fácil dos sucessos radiofônicos. Com temas sobre explorações , drogas, e delações que encontraram enorme identificação, principalmente entre os que viviam aquela realidade.Mesmo sendo em primeira pessoa as letras cantadas por Bezerra da Silva não eram de sua autoria . Bezerra fazia uma triagem entre as várias sugestões que recebia. E esses compositores figuravam entre pessoas comuns como: pedreiros, camelos e até desempregados que ganharam voz através de Bezerra da Silva. O documentário “ onde a coruja dorme ” lançado em 2012 por Márcia Deraik e Simplício Neto é um excelente registro dessa relação de Bezerra com os seus parceiros.
Bezerra também foi tese de doutorado que depois virou o livro Bezerra da Silva – Produto do Morro de Letícia Vianna que entre várias questões apresentou a emblemática relação presente em várias músicas no repertório de Bezerra da Silva no qual o trabalhador é o Malandro e o marginal como sendo o Mané forçados ao convívio dentro da comunidade cada qual seguindo o seu interesse. Bezerra esteve ao lado de Dicró e Moreira da Silva que também transitavam na linhagem malandra do samba carioca no projeto os 03 Malandros In Concert . Bezerra da Silva que morreu em 2005 aos 77 anos também ganhou admiração e respeito entre artistas de outros gêneros como rock, e hip hop com participações especiais em diversos trabalhos como Barão Vermelho, O Rappa entre outros artistas . E em 2010 Marcelo D2 lançou um cd só com regravações de Bezerra da Silva
Com mais de 30 discos lançados, inclusive um evangélico de forma independente , Bezerra sempre gostava de falar sobre as suas marcas que incluíam discos de ouro e platina. Pra quem teve que virar o jogo de viver na rua realmente foi uma vitória. Mas a grande conquista de Bezerra da Silva foi valorizar as pessoas comuns que vivem nas favelas e mostrar que existe um discurso autentico sobre uma realidade dura e complexa.
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Apresentação
Robson Santos
Produção
Walmir Bortoletto
Edição
Paulo Girardi