“Quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura se movimenta com ela”. A frase é da filósofa e ativista norte-americana Angela Davis. Mas também é utilizada pela professora Jaqueline da Conceição Camargo para expressar a mudança social dela e da família por meio da Educação.
Essa se graduou em História m uma universidade privada de Campinas com um programa de bolsas para pessoas em vulnerabilidade socioeconômica. E em outubro deste ano, concluiu o Mestrado na Faculdade de Educação da Unicamp, no qual ingressou por meio de cotas étnico-raciais.
“Na minha família eu sou a primeira pessoa que tem essa formação como mestre. Eu observo o reflexo disso motivando outras mulheres principalmente da minha família a terminarem seus cursos de graduação”, diz.
Jaqueline afirma que as ações afirmativas foram fundamentais no seu desenvolvimento.
“Se hoje eu sou professora da Educação Básica é por conta dessa primeira formação que eu tive na licenciatura e hoje em dia, várias das situações que eu tenho é por conta do mestrado”, explica Jaqueline.
Para ela, o resultado volta para toda a comunidade.
“São marcos na minha trajetória muito importantes, que a gente observa nas políticas de ação afirmativa essa importância na estrutura. Que vai desde a nossa estrutura enquanto indivíduo, ampliando-se para as nossas famílias, nossas comunidades e para a sociedade como um todo”, garante.
De acordo com Debora Cristina Jeffrey, professora Livre Docente da Faculdade de Educação da Unicamp, as cotas sejam nas universidades ou no serviço público, representam um grande avanço em direção a uma sociedade mais igualitária.
“São necessárias para garantir essa presença e representatividade negra nos espaços públicos, nos espaços de direito. As costas são uma dessas ações afirmativas”, afirma.
Maria Julia Peixoto Soares ingressou no curso de História na Unicamp em 2019, o primeiro ano em que foram implementadas as políticas de ações afirmativas, com cotas raciais. A estudante diz que é muito importante esse tipo de iniciativa.
“Sou a primeira pessoa da minha família a cursar uma universidade pública e uma das únicas a cursar o ensino superior. Eu vejo isso como parte dos frutos que são buscados. São direitos que muitas vezes nos foram negados”, avalia a estudante.
Maria Julia faz parte de um projeto que busca comprovar os efeitos positivos das ações afirmativas.
“Faço parte de um projeto de iniciação cientifica que busca apresentar alguns dados para demonstrar como essa politica afirmativa traz benefícios para a Universidade, para os alunos, para o tanto de produção acadêmica que passa a surgir”, explica.
Contudo, Debora afirma falta muito para que o Brasil seja um país livre do preconceito racial. Que para além das cotas é preciso lembrar que já existem leis, como o Estatuto da Igualdade Racial, de 2010, que busca alcançar a igualdade racial, e que as leis precisam ser cumpridas para transformar o país.
Ela ressalta que essa luta não é apenas dos negros e sim da sociedade.
“Temos de pensar como sociedade e não de forma separada. A luta antirracista é uma luta que envolve, que traz o engajamento da sociedade como um todo. Não adianta educar brancos sem integrar negros e não adianta integrar negros e depois pensar nesse movimento de conscientização ou de formação”, finaliza a professora da Unicamp.