O Estado de São Paulo perdeu dois policiais civis por dia em pouco mais de dois anos e meio, segundo dados oficiais obtidos pela Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP), via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Os números mostram que em dezembro de 2018, a Polícia Civil tinha 29.717 policiais na ativa. Já em dezembro deste ano, o número caiu para 27.524, o que representa uma redução de 2.193 policiais civis.
O delegado Fernando Gonçalves, diretor de Comunicação da Associação dos Delegados, diz que o número é alarmante.
“Essa média é de 2,19, é um pouquinho mais de dois policiais civis deixando a carreira por dia no Estado de São Paulo. Isso é realmente alarmante”, diz.
O cenário é ainda pior quando analisados os dados da série histórica. De 2015 a 2021, a instituição perdeu 10.852 policiais civis. No mesmo período, 7.000 policiais se formaram na Academia de Polícia.
Segundo o delegado, muitos policiais depois de treinados em São Paulo, saem e vão exercer a mesma função em outros Estados que têm melhor remuneração.
“O alarmante é que o decesso dos policiais civis está aumentando em progressão aritmética. É a falta de estímulo. Nós falamos que a porta de saída é mais atraente que a porta de entrada”, explica.
O delegado Fernando Gonçalves diz que o atendimento nas delegacias acaba sendo desmotivado porque um policial acaba fazendo o serviço de três, o que gera desgaste físico e emocional. E que essa desmotivação gera demora na investigação da Polícia Civil que é a grande arma para o combate ao crime organizado.
Fernando Gonçalves afirma que a certeza da punição é que realmente afeta a criminalidade.
“A certeza da punição depende de uma investigação criminal bem feita, depende de métodos de investigação qualificados, especiais, como interceptação telefônica, acompanhamentos, ação controlada, quebra de sigilo, e tudo isso depende de motivação dos policiais. Isso passa pela dignidade salarial. Nós, infelizmente, temos em São Paulo a pior média salarial do Brasil”, afirma.
A Associação dos Delegados aponta que as contratações feitas pelo Governo do Estado são tão lentas que não acompanham a velocidade da evasão dos policiais. Ainda segundo a Associação, a defasagem é de 15 mil policiais nos quadros da Polícia Civil.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que a Polícia Civil não comenta levantamentos cuja metodologia desconhece. Em relação ao déficit estadual, no entanto, ressalta que o número apontado não tem qualquer lastro com a realidade.
“Desde o início da atual gestão, em 2019, mais de 2.200 policiais civis, incluindo remanescentes do concurso de 2017, foram contratados. Outros 2.939 profissionais da segurança pública, sendo 2.750 para a Polícia Civil e 189 para a Polícia Técnico-Científica tiveram suas contratações autorizadas por meio de concurso público, no último mês de outubro”, destaca.