Terreiros em Sumaré têm sofrido ataques e invasões em série

Foto: Divulgação

A ida a cultos religiosos é uma atividade comum e geralmente prazerosa para muita gente. Mas para os religiosos de matriz africana de Sumaré tem se tornado um momento de aflição e medo, já que nos últimos três meses, três casas de Umbanda foram atacadas e tiveram diversos artigos religiosos destruídos.

No dia 11 de setembro, o Terreiro Oxalá e Iemanjá, no Jardim Bela Vista, foi o primeiro a ser alvo de criminosos, que arrebentaram o portão, arrancaram o relógio medidor de energia, e ainda quebraram diversos objetos sagrados e rasgaram roupas de santo.

A casa espiritual Pai João da Guiné, no Jardim Picerno, foi invadida em 7 de outubro. Dezenas de imagens de santos católicos foram destruídas, e atabaques foram rasgados.

O último ataque ocorreu em novembro, no terreiro de uma mãe de santo que apesar de ter registrado a ocorrência não revela a data ou local, por medo de novos ataques e ameaças. Nesse caso, os criminosos não conseguiram invadir a casa, mas vandalizaram a fachada e arrancaram o toldo.

Muitos desses líderes religiosos têm medo de aparecer e sofrer violência maior. Por isso, Fabiana Cavalcante, de 39 anos, dirigente da Casa de Caridade Pai João de Oyó, resolveu agir.

“É humilhante saber que é dever do Estado proteger a casa de oração, seja ela católica, evangélica, budista, kardecista, seja de matriz africana. Sentir esse racismo religioso, essa intolerância religiosa comendo a gente vivo”, diz.

Foto: Divulgação

Fabiana diz que também tem medo de toda a situação, mas sente que tem a missão de ajudar os demais.

“Eu estou me expondo, mas eu não posso me calar. Não vou calar minha voz de uma pessoa negra que sou, sou mãe de santo há muito tempo e não posso deixar que um irmão de fé venha me ligar chorando mais uma noite dizendo atacaram meu terreiro e eu perdi tudo”, afirma.

A líder religiosa teme que as autoridades só tomem alguma atitude depois que algo mais grave acontecer, já que desde o primeiro ataque foram feitas várias reuniões e diversos políticos foram procurados.

“Eu fico com medo porque parece que Sumaré está esperando um corpo de um pai ou uma mãe de santo estendido no meio do terreiro, com um tiro no peito, para selar a intolerância religiosa e o racismo religioso, e eu não quero deixar chegar nesse ponto”, comenta.

Edna Lourenço, presidente da Associação de Religiosos das Comunidades Tradicionais de Matriz Africana de Campinas e Região (ARMAC), fez uma representação no Ministério Público (MP), expondo as situações recentes enfrentadas em Sumaré, além de outras cidades da região.

A Promotoria informou que um Inquérito Civil está em fase de instrução e uma Notícia de fato aguarda resposta de ofício encaminhado ao Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo (Deinter 2), para que informem quantos boletins de ocorrência sobre intolerância foram registrados em 2020 e 2021.

No último dia 22, os religiosos tiveram uma reunião na Câmara de Sumaré, com o presidente do Legislativo, o vereador William Souza (PT), na qual foi exposta a situação enfrentada.

Após a reunião, o vereador enviou ofícios para a Secretaria Municipal de Segurança Pública, para o Comandante do 48º Batalhão de Polícia Militar do Interior, e ao Delegado do Município, pedindo providências para o reforço da segurança dos templos, e das investigações.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que os casos são investigados e diligências estão em andamento.

 

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