O secretário municipal de Saúde mais longevo da história de Campinas, Dr. Carmino de Souza, concedeu nesta quinta-feira (19) uma entrevista à CBN Campinas onde comentou as dificuldades enfrentadas pelo município em relação aos leitos pediátricos e neonatais. O médico foi titular da saúde entre 2013 e 2020, ao longo dos oito anos da gestão de Jonas Donizette (PSB) na Prefeitura de Campinas.
Segundo ele, a maior dificuldade em relação a estrutura de atendimento pediátrico é a sazonalidade das doenças respiratórias que acometem as crianças. Ele fez uma comparação, na qual afirmou que a pediatria é como um avião que voa durante oito meses vazio, e outros quatro superlotado. “Nós nos acostumamos nos últimos dois anos, por conta da pandemia, a não ter essa sazonalidade pois as crianças ficaram em casa, não circularam os vírus entre as crianças, poderia ser mitigado isso se a gente tivesse mantido medidas como lavar as mãos, manter os ambientes arejados, usar álcool em gel, usar máscara, etecetera, são medidas fundamentais não só para o coronavírus, mas para as outras infecções respiratórias que são muito parecidas”.
Carmino afirmou que, nos períodos de sazonalidade na gestão dele, a pasta reservava o terceiro andar do Hospital Mário Gatti, que geralmente atende adultos. O local ficava como uma reserva de enfermaria pediátrica durante a sazonalidade, assim como a brinquedoteca do Hospital Ouro Verde, que era adaptada para se tornar uma UTI pediátrica no período de maior procura. “Não é fácil aumentar o número de leitos, não é uma questão de dinheiro apenas, mas você precisa ter estrutura, pessoal treinado, pois o mesmo pessoal que lida com adultos não é o mesmo que lida com criança, é diferente, o respirador é diferente, os remédios, então abrir leitos é uma coisa muito mais demorada para você fazer na urgência”.
Cármino afirmou que o problema da falta de leitos atual tem relação também com o fechamento de unidades pediátricas em Campinas e região nos últimos anos, casos do Hospital Álvaro Ribeiro e Coração de Jesus, além do fechamento de leitos pediátricos no Hospital Estadual de Sumaré. Ou seja, a oferta foi reduzida nos últimos anos, enquanto a população da região cresceu. “A RMC precisa de uma unidade monotemática de pediatria, a perda dos leitos do passado faz muita falta neste período de sazonalidade, Campinas acaba sendo sobrecarregada pois é polo, a gente não manda paciente pra ninguém, só recebe, essa pressão sobre as centrais reguladoras é difícil de ser administrada, tanto no âmbito da Cross, que é estadual, quanto no âmbito da nossa central aqui em Campinas.”
O ex-secretário afirma que a atual gestão deve seguir insistindo junto ao estado pela abertura de mais leitos, e vê espaço para manobras de abertura justamente no Hospital Estadual de Sumaré. Ele afirma que também é válido verificar se há margem de expansão no HC e no Caism, ambos da Unicamp, e também nas áreas citadas por ele no Mário Gatti e no Ouro Verde.
Sobre quando se dará o término da sazonalidade atual, ele afirma ser difícil prever, pois a cada ano há uma variação nos meses em que ela se inicia ou termina, tendo anos em que começou em janeiro, e outros anos nos quais a sazonalidade chegou até o mês de julho. Ele acredita que as férias escolares em julho podem ajudar a melhorar a situação.
Em relação à crise de leitos neonatais, Cármino afirma não saber a razão exata do problema. “A UTI neonatal não sei o motivo de estar pressionada neste momento, não tem relação com a sazonalidade de doenças respiratórias, em princípio, deve ter algum outro fator, acumulo de prematuros ou crianças com má formação, que são as que permanecem longos períodos na UTI, essas gerações de alto risco têm crescido”.
Apesar de não haver uma maternidade municipal, o ex-secretário lembrou que a Maternidade de Campinas possuí o segundo maior convênio da Secretária Municipal de Saúde, atrás somente do Hospital PUC-Campinas, e que a cidade conta com outras unidades de saúde públicas e particulares que contam com leitos neonatais.
