Se pelos lados de Zé Carlos a movimentação parece ter esfriado com relação às investigações do Ministério Público das denúncias de corrupção passiva, não se pode dizer o mesmo do plenário da Câmara.
Na sessão desta quarta-feira, algo chamou a atenção: durante o intervalo regimental, o Legislativo campineiro recebeu a visita de um padre.
Padre André Luiz Bordighon Meira, do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, veio a convite dos vereadores Jorge Schneider (PDT) e Cecílio Santos (PT).
O religioso foi à Casa entregar aos parlamentares presentes a encíclica Tutti Fratelli, de autoria do Papa Francisco, e ressaltar a necessidade de haver paz.
Ao site da Câmara, Zé Carlos disse uma frase que chama a atenção:
“Estamos em um momento em que muitas pessoas estão passando dos limites em virtude de suas opiniões eleitorais, gerando conflitos e violência desnecessários”, disse.
Paz que parece faltar por lá.
Na segunda-feira, durante o uso da tribuna, o vereador Professor Alberto (PL), ao comentar as ofensas feitas à colunista da CBN Vera Magalhães pelo candidato à reeleição Jair Bolsonaro no debate realizado domingo, defendeu a atitude do presidente.
A fala inflamou outros vereadores. Nelson Hossri (PSD), ao também querer comentar o debate, acabou ofendendo também outras duas candidatas.
“Tanto a [Simone] Tebet quanto aquela do União Brasil [Soraya Thronicke] só faltaram trocar absorventes ali. Onde já se viu uma mulher virar e falar que mulher vota em mulher? Mulher vota em quem quiser”, disse.
Hossri também atacou a própria Vera Magalhães.
“Ela é da Fundação Padre Anchieta e recebe R$ 500 mil dentro de um contato com a Fundação, que saem do bolso de vocês. E ela utilizou daquele espaço para fazer sua militância política, e depois, como de praxe dos militantes esquerdistas, se vitimizou”, afirmou.
A Fundação Padre Anchieta é a mantenedora da TV Cultura. Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva, recebe R$ 22 mil mensais, o que dá R$ 264 mil anuais. O dinheiro, segundo a fundação, vem de verbas publicitárias.
Na sequência, Guida Calixto, vereadora do PT, defendeu a atuação da jornalista – que foi crítica ao governo Lula – e comentou que não concorda com alguns planos apresentados por Simone Tebet e Soraya Thronicke.
“Em nenhum momento a gente pode passar pano para quem utiliza linguagem violenta. O Professor Alberto fez uma fala que eu respeito porque houve um debate qualificado. Mas, aí em seguida, estimulou um bolsonarista a vir aqui e usar uma linguagem violenta contra duas mulheres. Me agrediu demais”, disse.
O tom ficou ainda mais quente quando Hossri voltou à tribuna. Ao defender a baixa qualidade do debate, na avaliação dele, voltou a citar a frase que disse no começo.
“Foi uma troca de absorventes. Vou além. Qualquer mulher candidata que vem com o discurso que mulher vota em mulher nada mais é que uma mulher machista”, completou.
Guida voltou à tribuna na sequência.
“Ele [Hossri] insistentemente agride as mulheres e é contra meu mandato, por ser de esquerda. E, toda vez que ele falar algo negativo sobre as mulheres, eu vou subir atrás e me posicionar contra”, afirmou.
Aí, o clima esquentou de vez. Hossri pediu a palavra e perguntou se a vereadora “não tinha vergonha em falar em respeito”.
Após a confusão, vereadores estão se articulando para entrar com um pedido de quebra de decoro parlamentar contra Nelson Hossri.
A propósito, Hossri não compareceu à sessão desta quarta-feira.