A Companhia Ambiental do Estado confirmou que melaço de cana-de-açúcar foi a causadora da mortandade histórica de peixes no Rio Piracicaba e na Área de Proteção Ambiental do Tanquã.
A informação já havia sido adiantada pelo Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema), do Ministério Público, em relatório do inquérito civil aberto pelo órgão para apurar o caso.
A CBN Campinas teve acesso ao documento, que cita um trecho do boletim de ocorrência registrado na delegacia de Rio das Pedras, cidade vizinha a Piracicaba e onde fica a Usina São José, apontada como causadora da mortandade.
Segundo o Gaema, reproduzindo trechos de um relatório feito pela Polícia Militar Ambiental, foram encontrados resquícios de melaço na mata que fica entre a usina e o Ribeirão Tijuco Preto, que deságua no Rio Piracicaba, além da mesma substância em tanques de armazenamento próprios da indústria e vestígios de escoamento do produto.
O relatório da PM Ambiental é categórico ao afirmar que os agentes constataram vazamento do melaço dos tanques até o córrego.
O xarope, ou melaço, é formado após o refinamento do açúcar, em um segundo processo do ciclo da cana.
Os dados da Polícia Militar Ambiental não incluem as vistorias feitas na Área de Proteção Ambiental de Tanquã, onde mais peixes mortos foram vistos na quarta-feira, três dias depois do vazamento.
Porém, o Ministério Público aponta que o inquérito civil vai, entre outras questões, apurar as irregularidades no despejo de efluentes industriais que causaram a mortandade nos dois trechos e verificar a extensão dos danos ambientais.
O Grupo de Defesa do Meio Ambiente pede ainda um parecer técnico do Centro de Apoio à Execução do próprio Ministério Público para avaliação dos tanques da usina que se romperam e a primeira nota oficial encaminhada à imprensa pela Usina São José, em que coloca em dúvida a constatação feita pela Cetesb, dizendo que seria “precoce” dizer que a poluição que matou os peixes teria saído da usina.
A Usina São José pertence ao Grupo Farias, que está em recuperação judicial. O MP, no detalhamento do inquérito civil, também solicitou os documentos desse processo e quais são as medidas tomadas para minimizar ou recuperar os danos ambientais do Ribeirão Tijuco Preto e Rio Piracicaba.
A empresa afirma que está acompanhando as investigações e disse que adota as “melhores práticas do ponto de vista ambiental”, e lembra que as operações estavam suspensas desde 2020, sendo retomadas em maio deste ano ao argumentar que os casos de mortandade no Rio Piracicaba são frequentes há pelo menos dez anos.