As chamadas “batalhas” ou “guerras” de bolinhas de gel têm dominado algumas cidades do Brasil nas últimas semanas. Em Campinas, o cenário não é diferente. Nas redes sociais, grupos compartilham vídeos mostrando como acontecem esses encontros, que na maioria das vezes, reúne crianças, adolescentes e até adultos.
O equipamento utilizado é o chamado “marcador”, que simula uma arma, com adesivos e cores coloridas. A reportagem da CBN Campinas descobriu que em lojas do camelódromo de Campinas, na região central, é possível encontrar o aparelho por até R$ 300. E a venda acontece sem qualquer tipo de restrição.
Como funciona?
O autônomo Lucas Camargo conta que a ideia de fazer uma ‘batalha’ em Campinas surgiu de uma inspiração da internet. Depois de ver influenciadores, ele e mais cinco colegas compraram os equipamentos e começaram a se reunir.
Segundo o participante, existem regras para poder participar. A primeira delas é a formação de grupos, cada um com o seu líder, que direciona os outros integrantes.
Ele ainda ressalta que antes do movimento virar “febre”, os produtos eram encontrados por R$ 90. Hoje, com a demanda, aumentou para R$ 300. Ao ser questionado sobre a segurança, ele explica que os moradores são acolhedores e entendem a brincadeira.
O movimento, que começou no Vila Bela, já passou pelo Jardim Pauliceia, Jardim Nóbrega, Jardim Garcia, Vila União e Santa Lúcia. Os encontros são marcados em grupos de WhatsApp e reúnem de 50 a 60 pessoas.
O que diz a Secretaria de Segurança Pública
A CBN Campinas questionou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SPP), para saber se há registros de ocorrências relacionados às guerras de bolinhas em Campinas. Segundo a pasta, era preciso endereços para localizar as ocorrências. Ainda questionada, a secretaria indicou a prática como uma “brincadeira perigosa” que pode gerar acidentes de trânsito, ferimentos e até “mal-entendido ao ser confundida com uma arma real”.
O participante da prática, Lucas Camargo, disse que não vê o movimento desta maneira e que o grupo preza pela segurança. Sobre a possibilidade de confundir a arma, dita pela Secretaria de Segurança Pública, ele afirma que não “tem como comparar uma arma de gel com a de verdade”.
A CBN Campinas procurou o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), que é responsável pela inspeção e regulação de produtos. Ele informou que tem conhecimento dos casos, e, após consulta, as arminhas não são classificadas como brinquedo, por não serem destinadas a crianças menores de 14 anos.
Ainda conforme o Instituto, produtos que não se enquadram nesta categoria não podem ser comercializados com a expressão “brinquedo” e/ou com o Selo de Identificação da Conformidade do Inmetro para Brinquedo. O Inmetro também disse que o produto em questão se assemelha a armas de airsoft e paintball.
Confira a nota completa do Inmetro
“Todas as armas de brinquedo, com ou sem projéteis, devem cumprir os requisitos, advertências e indicações aplicáveis a todos os tipos de brinquedos e atender à identificação prevista no Anexo C da Portaria Inmetro nº 302, de 2021, que determina as marcações ou identificações de brinquedos similares a armas, bem como o Anexo V – Lista de Produtos que explicitamente, não são considerados brinquedos, no item 47. Imitações de armas de fogo. Ressaltamos que a comercialização de imitações fieis de armas de fogo é proibida no Brasil.
Informamos também que, após melhor análise, entendemos que o produto em questão se assemelha a armas de airsoft e paintball, que é regulado pelo Decreto nº 11.615, de 21 de julho de 2023, que estabelece as competências e responsabilidades para o controle e uso de tais produtos, sendo que ao Inmetro não é estabelecida nenhuma competência em relação ao tema. Dessa forma, à base da regulamentação e do decreto vigente, reitera-se a conclusão de que o produto objeto da consulta não é considerado brinquedo”, informou.
