O Brasil tem sentido de forma cada vez mais frequente os impactos das mudanças climáticas, seja com as altas temperaturas ou com a seca intensa. Essas condições já afetam a qualidade de vida das pessoas e também podem causar impacto na produção de alimentos, principalmente de frutas, verduras e legumes.
O Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) informou que a seca, entre 2023 e 2024, é a mais intensa já registrada na história do país.
Caio Reiche atua na Ceasa de Campinas há 13 anos, comercializando leguminosas. Este ano, conta que já percebeu os impactos do clima na produção de tomates. As altas temperaturas, principalmente no período noturno, têm feito o fruto alcançar a maturação antes do previsto, prejudicando também seu desenvolvimento por completo.
“Se a produção é muito alta, aumenta o nosso estoque, porque a gente não pode deixar a mercadoria na roça. Esse excesso de produção faz com que o preço caia, para equilibrar a demanda. Isso ocorreu em todas as regiões produtivas, como Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Bahia. O consumidor ainda não sentiu tanto isso no produto, mas em breve ele sentirá falta de um produto de qualidade superior”, destacou o comerciante.
As condições climáticas afetam constantemente o comportamento dos preços, sobretudo dos produtos vinculados à agricultura. O economista e professor da Puc Campinas, Roberto Brito, exemplifica esses reflexos sentidos no primeiro semestre deste ano na produção de arroz, que também sofreu alterações no preço, por conta das chuvas e enchentes que atingiram o Sul do país.
“Ainda não é nada significativo, que possa afetar a inflação do consumidor, mas há uma preocupação de que, se estiagem se prolongar, temos efeitos mais relevantes na cesta de consumo do brasileiro. Há expectativa que, daqui para frente, possa ter impacto no preço dos produtos, em especial os de hortifrúti, que podem subir os preços pela escassez na gôndola”, explicou o professor.
Mesmo com as condições do clima, não há problemas de abastecimento de qualquer produto no Ceasa de Campinas, que tem registrado preços estáveis até agora. Alguns produtos tiveram alta de preços, como é o caso dos cítricos. O limão está mais caro pelo período de entressafra, enquanto a laranja e tangerina subiram por conta da alta demanda de consumo, registrada pelo calor.
O engenheiro agrônomo da Ceasa, Ricardo Munhoz, não descarta que a estiagem possa afetar a produção, como ocorreu em 2014, mas é preciso aguardar a chegada das chuvas e o comportamento do clima no futuro.
“No período de crise hídrica no Brasil, houve o desabastecimento parcial de algumas mercadorias por redução na área cultivada. O produtor, num cenário de falta d’água, diminuiu a área de produção para continuar plantando, pela falta de água na propriedade”, explicou o agrônomo.
Nas condições de seca, a planta sofre pela necessidade hídrica, por falta de equilíbrio nutricional, que faz com que os frutos não se desenvolvam.
“Se isso acontecer, vamos ter menor produção nas áreas e menor área plantada, além de riscos na qualidade dos produtos, mas ainda não temos essa projeção. Estamos no período que se iniciam as chuvas e somente após isso teremos ideia do reabastecimento dos mananciais”, destacou o especialista.