O mês de setembro tem sido marcado pela fumaça das queimadas que encobre pelo menos dez estados do território brasileiro. Boa parte dela é resultado dos incêndios florestais da Amazônia, trazida pelas correntes de vento da atmosfera. Mas outros pontos de incêndio no país também são fatores determinantes para a má qualidade do ar.
Nesta semana, a qualidade do ar em Campinas chegou a ser classificada como “muito ruim”, de acordo com os medidores da Cetesb, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.
A Secretaria de Saúde de Campinas informou que, entre agosto e setembro deste ano, já foram realizados 705 atendimentos relativos a SRAG – Síndrome Respiratória Aguda Grave. No mesmo período do ano passado, foram 438 casos. Um aumento de cerca de 62%.
A SRAG abrange doenças respiratórias que causam sintomas graves, por isso, a notificação é compulsória.
Com essas condições climáticas, os problemas de saúde se agravam, principalmente os respiratórios. São diversas substâncias presentes na fumaça, como gases e partículas nocivas ao corpo humano, como explica a médica coordenadora do serviço de pneumologia do Hospital da PUC-Campinas, Débora Patrocínio.
“A fumaça das queimadas libera gases e partículas, que ficam em suspensão no ar. Os gases produzem uma irritação nas mucosas, lacrimejamento, coriza, irritação de garganta, dor de cabeça”, detalhou Débora.
A especialista destaca que, as principais doenças desenvolvidas ao respirar o ar poluído podem variar desde quadros alérgicos até problemas mais graves, como o estreitamento das vias aéreas, hipertensão e até desenvolver câncer, no caso de exposição longa à substância dioxina, presente na fumaça.
“Os efeitos de respirar o ar com tudo isso são: desenvolver quadros alérgicos, infecções de repetição, produção de muco com tosse crônica, problemas respiratórios mais graves, como DPOC (doença crônica pulmonar), hipertensão arterial, alterações no trato digestivo, problemas de garganta e, em último caso, pode causar o câncer, por conta da dioxina, se for inalada por um longo período”, pontuou a especialista.
No caso dos trabalhadores que atuam ao ar livre, eles acabam correndo um risco ainda maior, como destaca a médica pneumologista. “Trabalhadores de ambientes externos estão muito mais expostos a essas doenças, correm um risco maior. Elas agridem não só a pele, mas todo o sistema respiratório. Os riscos cardíaco, pulmonar e circulatório aumentam muito, pelos agravantes da exposição contínua à fumaça, pelo calor, e pelo trabalho braçal, que já exige esforço”, acrescentou Débora.
Para amenizar os efeitos da fumaça e poluição do ar, a especialista ressalta medidas como a hidratação frequente, inclusive das mucosas com soro fisiológico, além de sair de locais tomados pela fumaça, pelos riscos de intoxicação aguda.