Famílias acolhedoras ativas, em Campinas, representam metade da capacidade do serviço

Foto: Arquivo pessoal

O toque do telefone tem um significado diferente para quem decidiu ser uma família acolhedora. Ele passa a trazer a mensagem de que um novo integrante vai chegar ou, agora, está pronto para escrever um novo capítulo, mas em outro lugar.

Crianças e adolescentes, de 0 a 18 anos incompletos, que precisam ser afastados do convívio da família biológica, seja por uma situação de violência ou negligência, são encaminhados temporariamente a uma família acolhedora. O objetivo é oferecer um ambiente familiar até que ele possa retornar ao lar biológico ou ser encaminhado para adoção.

A decisão judicial neste período pode levar até dois anos. São dias e meses em que será possível acompanhar o desenvolvimento do novo integrante da casa: o primeiro passo, palavra ou até o primeiro passeio na praia.

A Vanessa Barbosa é de Campinas. Em junho de 2019, ela começou o curso de capacitação de família acolhedora e, em setembro, recebeu a primeira criança. Atualmente, está no sexto acolhimento e desta vez, com um menino de 4 anos. Ele chegou há pouco mais de um ano. Ela faz questão de registrar todos os momentos. Até montou um álbum para que a criança consiga levar as lembranças. Uma forma de visitar memórias, quando ela não estiver por perto para contá-las.

Durante o acolhimento, as famílias são acompanhadas por uma equipe com psicólogo, assistente social e pedagoga. Neste período todos são preparados para quando chegar a hora da partida. É o momento que a Justiça define se a criança irá retornar para os pais biológicos, algum familiar ou irá seguirá para adoção. Eles chegam sabendo que vão embora, mas o momento não deixa de ser dolorido.

Quem também conhece esse sentimento é a Marjorie Oliveira, mãe de três filhos biológicos. A professora notou que no coração cabia mais gente por volta de 2016, quando decidiu que queria ser uma família acolhedora. Hoje, em 2024, foram várias idas e vindas. A primeira experiência foi com um menina de 6 anos.

Marjorie sempre gostou de acolhimento duplo, ou seja, com duas crianças ao mesmo tempo. Neste período, também estava com um bebê de 20 dias. Foram 9 meses juntos.

Em Campinas, os serviços são oferecidos pelo Sapeca (Serviço de Acolhimento e Proteção Especial à Criança e ao Adolescente), da Prefeitura de Campinas, e pelo Conviver, da Guardinha (Associação de Educação do Homem de Amanhã).

O serviço tem a capacidade de cadastrar até 40 famílias acolhedoras, mas atualmente possui 21 cadastradas, sendo 17 ativas, acolhendo 15 crianças e adolescentes.

A coordenadora da instituição Guardinha, Mariana Alves, explica que grande parte dessas crianças são afastadas dos pais biológicos por estarem em uma situação considerada de risco para o Conselho Tutelar e a Vara da Infância e Juventude.

Bruna Bergamin é uma das psicólogas da equipe e pontua que em uma família acolhera, é possível cuidar dos sentimentos com um olhar diferente do que dentro de um abrigo. O propósito é promover este ambiente familiar saudável até que possam seguir em frente.

Tatiane Zamai, gerente de fortalecimento das Organizações da Sociedade Civil e do Ecossistema Social na Fundação FEAC, apoiadora do projeto, explica que as famílias interessadas em serem acolhedoras são rigidamente analisadas. E o principal diálogo é a consciência de que será temporário.

Marjorie, do início da reportagem, conta que nestes 7 anos como mãe acolhedora, aprendeu a lidar com os sentimentos e a ressignificar a dor da partida. Assim como a Vanessa, que se redescobriu.

O acolhimento vai além de simplesmente proporcionar um ambiente familiar, ele é um passo crucial na vida da criança, permitindo que ela desenvolva um profundo sentimento de pertencimento e segurança, essenciais para bem-estar emocional.

Cada gesto, palavra e momento compartilhado contribuem para reescrever a história. A família acolhedora representa o primeiro passo em direção a um futuro repleto de possibilidades.

Reportagem: Thalita Souza e Fernanda Alves.

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