Retrospectiva 2024: Rio Piracicaba teve o pior ano da história com poluição

foto: Edijan Del Santo/EPTV

Um rio conhecido em todo o Brasil e que leva o nome de Piracicaba para os quatro cantos do país e que todo ano é notícia…

Só que desta vez não foi por jogar pra fora. O Rio Piracicaba nunca foi tão maltratado como em 2024.

Os episódios seguidos de despejo de esgoto e poluição chegaram ao limite no domingo, 7 de julho.

Peixes mortos em toda a margem. E a cada hora mais peixes, alguns ainda agonizando, surgiam, denunciando uma situação extrema: uma nova mancha de poluição atingia o manancial.

Pescadores, voluntários, policiais militares ambientais, técnicos da prefeitura… Um mutirão começou a recolher os peixes que continuavam a aparecer no Rio…

Até então ninguém sabia o que aconteceu. Só se sabia que o nível de oxigênio era praticamente zero.

As denúncias começaram a surgir, e os técnicos da Cetesb descobriram que uma mancha de poluição saiu da Usina São José, que fica às margens do Ribeirão Tijuco Preto, em Rio das Pedras. Ainda não era possível dizer o que tinha causado a mortandade, mas houve um flagrante feito pela Polícia Militar Ambiental que mostrava uma substância viscosa sem qualquer tipo de tratamento.

Balanço da prefeitura no dia seguinte apontou a retirada de três toneladas de peixes da área urbana. Mas ainda havia algo pior. Uma semana depois…

O minipantanal paulista se transformou em um cenário de guerra. Quanto mais peixes eram retirados, mais apareciam na superfície.

Enquanto uma força-tarefa tentava contabilizar quantos peixes haviam morrido, a Cetesb multou a Usina São José, como nós contamos no CBN Campinas.

Se existiam dúvidas se as duas mortandades tinham relação, a Cetesb mesmo esclareceu depois.

Desde o começo a Usina negou ser a causadora da mortandade, chegando a colocar em dúvida o que a Cetesb e a Polícia Militar Ambiental constataram no dia do vazamento do melaço de cana, que veio de um depósito de armazenamento que estava quebrado, como contou Adriano Queiróz, diretor de controle e licenciamento ambiental da Cetesb.

O mel de cana-de-açúcar é de difícil diluição na água, e foi encontrado cristalizado em uma das vistorias na usina. O PH do ribeirão, entre 7 e 8 de julho, ficou ácido, comportamento característico de quando há presença de resíduos de açúcar em água.

A carga orgânica, de alta densidade, foi arrastada pelo curso do rio até a Área de Proteção Ambiental de Tanquã, no minipantanal paulista, onde por características do local se acumulou, causando assim a nova mortandade no dia 15.

Ao todo 235 mil peixes, cerca de 100 toneladas, foram retirados dos dois trechos do rio. Uma destruição ambiental e econômica para os pescadores que dependem do Tanquã.

O Ministério Público de Piracicaba instaurou um inquérito civil para apurar o caso. A investigação ainda segue. Assim como o processo de aplicação da multa para a Usina, que teve direito de recorrer.

A recuperação da população de peixes do Rio Piracicaba após a mortandade pode demorar até nove anos para acontecer. O período é equivalente a três gerações de animais.

O analista ambiental Antônio Fernando Bruni Lucas, explicou o impacto com a morte destes animais que estavam em período próximo de reprodução. O especialista também pontua que a prática de colocar espécies de peixes no rio para repovoar poderá impactar a diversidade genética.

Mais de 230 mil peixes foram recolhidos, mas a quantidade pode ser ainda maior, já que muitos acabaram indo com a corrente de água.

Segundo a Cetesb, entre agosto de 2014 e julho de 2024, no trecho do Rio que corta Piracicaba, 17 mortandades foram registradas.

A mais grave até então tinha sido em 2014, quando, por causa da severa estiagem, o Rio Piracicaba quase secou por completo. A falta de água, associada à poluição e à queda no índice de oxigênio, matou ao menos 21 toneladas de peixes em três episódios quase consecutivos.

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