Enfrentando desafios, mulheres trans conquistam espaço no mercado de trabalho formal

Isabelly (esquerda) e Luiza (direita) Foto: Arquivo Pessoal

Ouça a reportagem na íntegra.

No país que mais mata transexuais e travestis no mundo, o cenário de empregabilidade dessas pessoas no Brasil também não se apresenta dos mais favoráveis. As barreiras incluem discriminação, a baixa escolaridade e poucas vagas disponíveis.

De acordo com dados levantados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais, no ano passado, somente 4% da população trans feminina se encontra em empregos formais. A associação apontou ainda que cerca de 90% da população de mulheres transexuais e travestis têm a prostituição como fonte de renda.

Resistência diante destes desafios, Isabelly Carvalho e Luiza Trajano, moradoras da região de Campinas, conseguiram ser exceção dessa realidade brasileira. As duas mulheres transexuais estão inseridas no mercado de trabalho formal, ambas atuando no setor público.

Isabelly, 37 anos, é vereadora pelo PT no município de Limeira. Ela foi a primeira mulher trans eleita da região, em 2020. No ano passado, foi reeleita e continua a ocupar uma das 21 cadeiras do Legislativo na cidade. No atual mandato, Isabelly é uma das 27 vereadoras trans eleitas no país.

Isabelly está no segundo mandato seguido, desde 2020. Foto: Arquivo pessoal

“Minha vida se tornou um mar de violência…. foi aí que decidi entrar nos movimentos sociais, políticos, porque acreditava que só através da política eu conseguiria contribuir para tentar amenizar esse quadro de violência que pessoas como eu sofriam e sofrem”, disse a vereadora.

Mas antes mesmo de ser eleita vereadora, ela já atuava na área pública, como servidora concursada da Prefeitura de Limeira. “Eu fiz o concurso público da prefeitura de Limeira com 20 anos. Trabalhei, desde então, no pedágio municipal, entre Limeira e Cordeirópolis”, conta.

Na Câmara, ela busca trabalhar principalmente com as pautas de combate à violência, questões de gênero, educação política, além do incentivo da busca pela saúde.

“A sensação [de vencer a eleição] foi de uma grande vitória… Não é verdade que o fato de eu ser trans ou travesti faça de mim um destino imperfeito. Tem a Isabelly e ela ocupa uma cadeira importante. Essa luta é coletiva, não é individual”, comentou Isabelly.

Foto: Arquivo pessoal

Luiza Trajano, 30 anos, tem um ponto em comum com a história da vereadora. Ela também está no mercado de trabalho formal, há 12 anos, graças a um concurso público. Ela trabalha como ajudante geral no Saema, o Serviço de Água, Esgoto do Município de Araras. O trabalho que ela desempenha é nas ruas da cidade, no setor de obras do departamento. E, para ela, atuar na função braçal é motivo de orgulho.

“Eu queria me hormonizar, então queria ter meu próprio dinheiro. Foi aí que passei no concurso do Saema, aos 18 anos. Foi aí que fui procurar ajuda médica. Eu falo que sou uma figura pública aqui, porque é diferente uma imagem feminina exercer um trabalho masculino”, contou a servidora.

Além do trabalho no dia a dia do Saema, Luíza concilia um hobby com a profissão, o de disputar concursos de beleza como miss. Começou em 2021, disputando o Miss Beleza Trans Brasil, e gostou da ideia de enfrentar as passarelas.

Luiza começou a disputar concursos de beleza em 2021. Foto: Arquivo pessoal

“Eu fui parada na rua, me falaram ‘nossa você poderia ser modelo’. Foi aí que falei vamos tentar. Passei numa seletiva, fiquei entre 27 meninas, de 200. A gente não espera ser valorizada, foi um presente de Deus. Não é fácil ser uma mulher transexual, é uma luta constante.”

Apesar das histórias de superação, o espaço no mercado de trabalho para pessoas trans no Brasil ainda precisa evoluir, como aponta Sayonara Nogueira, integrante da Rede Trans Brasil, instituição nacional que representa pessoas transexuais de todo país.

Foto: Arquivo pessoal
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