No Radar: entenda como Viracopos virou território hostil para o tráfico

foto: Giovanna Peterlevitz/acidadeon Campinas

A repressão ao crime no aeroporto ganhou força com tecnologia de ponta, monitoramento em tempo real e atuação estratégica da Polícia Federal

Depois de roubos milionários e fragilidades expostas, Viracopos deixou de ser um alvo fácil. Com tecnologia, inteligência e operações cirúrgicas, o aeroporto virou um pesadelo para o crime — e um exemplo de como se reconstrói a segurança.

Um dos pilares dessa transformação é o uso intensivo de tecnologias de rastreamento e detecção de última geração. O aeroporto conta com espectrômetros de massa, capazes de identificar material orgânico mesmo em compartimentos ocultos das bagagens.

Além disso, há tecnologia que gera imagens tridimensionais da mala, que pode ser rotacionada virtualmente para análise completa, de acordo com o delegado-chefe da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza:

“No momento em que você entrega a sua mala, a mala despachada, a bagagem despachada, ela vai passar por uma série de esteiras e inclusive vai passar pelo espectrômetro de massa. Então, independentemente do que a pessoa tenha colocado ou como colocar dentro da sua bagagem, se tentou esconder dentro das hastes metálicas, se produziu um fundo falso, se ela colocou algum material orgânico por cima, independentemente do tipo de disfarce que a pessoa tente colocar na sua bagagem, o espectrômetro de massa vai indicar de forma colorida o conteúdo que existe dentro dessa mala. Então, por exemplo, vai aparecer laranja. Então, ao contrário do que pode ser pressuposto por pessoas desavisadas, não há como disfarçar o conteúdo de uma mala. O espectrômetro vai atravessar tudo isso e vai indicar onde está o material orgânico. Não tem como passar o material orgânico sem ser visto pela fiscalização.”

Embora a tecnologia seja pensada para reforçar a segurança da aviação civil – prevenindo o embarque de armas brancas, explosivos e substâncias perigosas – ela também tem sido essencial na repressão ao tráfico de drogas, explica o delegado. Além disso, Body Scanners foram instalados para detectar drogas presas ao corpo.

“Os body scanners, recentemente instalados no aeroporto de Viracopo, são o único do tipo instalados no Brasil. É o primeiro aeroporto a receber esse tipo de equipamento e são equipamentos muito eficientes. Então, em apenas alguns segundos, os operadores do equipamento são capazes de visualizar tudo que a pessoa tem entre a pele e a roupa. Veja, isso é muito importante, entre a pele e a roupa. Então, não existe a possibilidade de tentar embarcar e passar por esses body scanners carregando algo oculto no seu corpo. E a vantagem do body scanner sobre o equipamento de raio X é que o equipamento de raio X, ele se limitava a questões a material metálico, enquanto os body scanners detectam não só os materiais metálicos, mas também os orgânicos.”

No aeroporto, há ainda um trabalho contínuo de inteligência voltado à análise de perfis de passageiros. Todos os viajantes que passam por Viracopos estão sujeitos à verificação de dados, inclusive por meio de consultas a bancos de dados que identificam mandados de prisão e outros impedimentos legais.

O objetivo? Não apenas flagrar restrições formais, mas detectar inconsistências no perfil do voo ou do viajante que possam justificar uma investigação mais aprofundada.

Entre os casos mais delicados enfrentados pela Polícia Federal estão os chamados “engolidores” – pessoas que ingerem cápsulas com droga para transporte. É uma logística criminosa cara para os traficantes, e também cara de reprimir. O custo de cada caso varia entre R$ 6 mil e R$ 10 mil, ressalta o delegado-chefe da Polícia Federal.

“Normalmente, o que nós temos de experiência é que as pessoas são capazes de carregar entre 1 kg e 1,3 kg de cocaína por esse meio. Como existe uma limitação da quantidade que a pessoa pode transportar e também existe a logística envolvida, ou seja, a passagem, estadia ou retorno dessa pessoa, é um sistema caro para o tráfico de drogas. E também é caro para o Estado reprimir esse tipo de crime. Quando se flagra um engolido, ele passa, neste exato momento, a custódia do Estado. Então, o Estado passa a ser responsável pela sua integridade física. Então, ele tem que ser levado a um hospital, já que ele tem o risco de vida e ele não vai chegar até o seu ponto de partida e vai ter o respectivo tempo de expelir. Ele vai ficar aqui e vai ficar preso. Então, ele tem que ficar sob observação médica”, explica.

Segundo a corporação, não há um perfil único das pessoas que tentam realizar o transporte de drogas. Mas a maioria tem pelo menos uma característica em comum:

“Não existe um perfil dessas pessoas que transportam, que aceitam ser passageiros, carregando droga para outros continentes. Não há um perfil feminino nem masculino, os números são muito próximos, né, a quantidade de homens e a quantidade de mulheres, mas nós percebemos que quem arrisca mais são os mais jovens, a média de idade dos presos é de 25, 26 anos, aí nós vamos encontrar presos desde 18 anos até 56 anos. O que é comum entre eles é que, além de jovens, normalmente são primários, não tem antecedentes criminais, porque um antecedente, principalmente por tráfico de drogas, acenderia já desde o começo uma luz no serviço de inteligência. Então o que nós temos são pessoas jovens normalmente necessitadas em condição de agilidade econômica que aceitam essa oferta do tráfico para transportar drogas e arriscam assim a liberdade, com penas de até 25 anos de prisão.”

No episódio final, vamos falar sobre os resultados desse trabalho: menos flagrantes, mais dissuasão, reconhecimento internacional da Polícia Federal e o impacto real no combate ao tráfico. Você vai entender por que Viracopos é hoje uma referência.

Compartilhe!

Pesquisar

PODCASTS

Mais recentes

Fale com a gente!

WhatsApp CBN

Participe enviando sua mensagem para a CBN Campinas

Veja também

Reportar um erro

Comunique à equipe do Portal da CBN Campinas, erros de informação, de português ou técnicos encontrados neste texto.