Do ateliê aos palcos dos rodeios: estilista de Jaguariúna cria figurinos para celebridades do mundo country

A pandemia mudou tudo: com mais tempo e estoque de tecidos parado, nasceu a ideia de criar coleções autorais. E foi aí que o country entrou de vez na vida da estilista. 
Foto: Reprodução/Redes Sociais

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No coração de Jaguariúna, onde o som dos peões ecoa forte nos meses de festa, um outro tipo de espetáculo acontece todos os dias. Um desfile silencioso das agulhas guiadas pelas mãos de uma família que transformou amor em costura, e costura em negócio de sucesso. 

Essa é a história da Sãmua Dias, que cresceu no ambiente da costura e despretensiosamente conquistou o seu espaço na moda country. Ela cresceu literalmente entre linhas e agulhas. A inspiração veio de casa: mãe, avó, tias, todas costureiras.

Desde menina a profissional acompanhava a mãe, que sempre teve a costura como profissão. Não demorou muito para ela entender que a costura também faria parte da sua vida. 

Eu cresci nesse meio da costura, sempre tecido para todo lado, minha mãe costureira, minha avó costureira, minhas tias, costureiras. Então eu sempre tive nesse meio. Quando eu cresci um pouquinho, eu comecei a pegar gosto pelo desenho. Então eu sempre desenhei muito bem, desde muito pequenininha. E a partir de incentivos de professores que falavam para minha mãe, você precisa colocar em um curso de desenho para ela aperfeiçoar isso que ela desenha muito bem. E minha mãe, né? Sempre ali atrás de focar nisso. Então, quando eu cresci com uns 12 anos, mais ou menos, eu comecei a desenhar para os clientes dela, mas sempre como hobby, coisa de criança”, conta.

Desde jovem a vocação da costura sempre esteve presente. Foi então que ela decidiu se especializar na profissão.  

“Depois que eu fui fazer o ensino médio, eu descobri que realmente eu queria fazer moda. E a partir daí, o negócio começou a ficar mais sério. Decidi que queria realmente trabalhar com moda, fiz a minha faculdade de moda. Nossa família tinha um ateliê em casa, era um quartinho super pequeno, a gente fazia os atendimentos lá”, afirma. 

A trajetória profissional começou tímida, em um pequeno quarto da casa da família. Em 2016, Sãmua abriu o primeiro ateliê oficial, conciliando o emprego de vendedora com o atendimento às clientes. O momento decisivo veio após o primeiro ano do ateliê: Sãmua decidiu largar o emprego e se dedicar exclusivamente à moda. 

“No primeiro ano eu não saí de uma de primeira. Até por conta dessa incerteza, fiquei no meu trabalho, trabalhava de vendedora numa loja e tocando ateliê junto, atendia as clientes, corria aqui na hora do almoço, depois saía do serviço, vinha atendendo cliente, então era aquela rotina louca”, ressalta a estilista.

Antes, o ateliê tinha como foco vestidos de festas e noivas. Mas a pandemia mudou tudo: com mais tempo e estoque de tecidos parado, nasceu a ideia de criar coleções autorais. E foi aí que o country entrou de vez na vida da estilista. 

“Tiramos essa ideia do papel que foi a criação das nossas coleções, que mesmo assim são coleções pequenas, não são coleções muito grandes. Peças totalmente exclusivas, que a gente cria aqui e foi uma oportunidade de ter peças aqui quando o cliente chegar e já ter peças prontas. Foi uma ideia que eu não conseguia antes devido ao sob medida ocupar muito tempo de produção. E durante a pandemia, a gente a gente se vendo aqui com muito tecido parado é, a gente viu uma oportunidade e hoje a gente tem a nossa marca também”, acrescentou. 

Morar em Jaguariúna, cidade com forte tradição no rodeio, também impulsionou essa nova fase. O reconhecimento no meio country foi imediato. A estilista passou a vestir artistas como Lauana Prado, Ana Castela e recentemente o cantor Henrique, da dupla Henrique e Juliano. Hoje, a empreendedora produz para eventos de rodeio e festas agro de norte a sul do país o ano inteiro.

Mesmo com o crescimento, o diferencial da marca continua sendo o atendimento personalizado. A estelista faz parte de um setor essencial da economia brasileira. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, em 2024 o Brasil registrou 1,3 milhão de empregados formais, e cerca de 8 milhões ao considerar empregos indiretos e o efeito renda, sendo 60% dessa mão de obra composta por mulheres. 

O crescimento do negócio também foi impulsionado pela internet. Os atendimentos e vendas acontecem pelas redes sociais. 

Nem tudo são flores. Sãmua enfrenta desafios típicos do empreendedorismo, como prazos curtos e a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada, especialmente em um momento em que a costura parece atrair cada vez menos a nova geração. 

Ainda assim, ela faz parte de um movimento crescente. Dados do Sebrae mostram que o número de mulheres empreendendo em Jaguariúna não para de subir. Até 15 de fevereiro de 2025, eram 2.722 mulheres registradas como MEI (Microempreendedoras Individuais) na cidade. Em 24 de maio do mesmo ano, esse número já havia aumentado para 2.788. 

Mais do que construir uma marca, ela construiu uma trajetória que inspira outras mulheres a acreditarem em seus sonhos. A história da estilista mostra que o empreendedorismo feminino vai além dos números: ele move realidades, rompe barreiras e costura futuros possíveis. Um caminho feito de coragem, criatividade e muito trabalho — que ainda tem muitos capítulos a serem escritos. 

Com sonorização de Mateus Akira*

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