Um médico, neurocirurgião, de 73 anos, está sendo investigado pela Polícia Civil por assédio sexual. Ao todo são 4 inquéritos criminais instaurados pela 1º Delegacia de Defesa da Mulher, em Campinas. De acordo com a Polícia Civil, eles foram concluídos e encaminhados a Justiça. As investigações partiram de denúncias de mulheres da região. Por se tratar de crimes sexuais, os processos correm em segredo de justiça.
Em Campinas, o médico trabalha no HC da Unicamp, onde também atua também como professor da universidade. Ele atende ainda Hospital Irmãos Penteado. E já fez atendimentos em uma clínica particular, que fica na Rua José Paulino, no Centro. Atualmente, o prédio foi colocado à venda.
Os abusos teriam acontecido na clínica e no Hospital Irmãos Penteado. Os boletins de ocorrência foram registrados em 2015, 2021 e 2023.
Uma das vítimas atualmente com 47 anos e que não quis se identificar, conta que acompanhava a sogra em um atendimento no Hospital Irmãos Penteado. O médico então pediu para que ela o acompanhasse até uma sala para ver o resultado dos exames.
(ouça o relato)
A vítima registrou boletim de ocorrência em 2015. Porém, de acordo com a Polícia Civil, o caso foi analisado e configurado como não criminal por ausência de materialidade.
Outra mulher, que também preferiu não se identificar, diz ter sido vítima do neurocirurgião. Ela não registrou boletim de ocorrência.
(ouça o relato)
O médico é natural de Natuba, cidade do agreste paraibano. Ele já foi candidato a Deputado Estadual na Paraíba, em 2018. Por esse motivo, ele tem registro no Conselho Regional de Medicina da Paraíba e de São Paulo. O registro profissional dele foi suspenso temporariamente em maio deste ano pelo Cremesp.
O investigado também já foi processado por danos morais. O processo foi movido por uma enfermeira, que trabalhou com ele durante uma cirurgia no Hospital Irmãos Penteado. Ele foi condenado a pagar uma indenização de R$10 mil para a enfermeira.
DENÚNCIAS
Maio/ 2015 – Uma moradora de Americana registrou o BO na Delegacia de Defesa da Mulher de Santa Bárbara d´Oeste.
Ela disse acompanhava a sogra em uma consulta no Hospital Irmãos Penteado, quando o médico pediu que ela o acompanhasse até uma sala para ver o resultado dos exames.
A denunciante disse à polícia que o neurocirurgião pegou os braços dela, colocou em nos ombros dele e disse “me abraça gostoso”. Em seguida, disse “simpatizei com você desde o instante que chegou, você tem os olhos bonitos”. Segundo a denunciante, o médico a segurou pelo pescoço e tentou beijá-la.
O neurocirurgião forçou para que ela ficasse, mas a mulher conseguiu sair. Ele continuou segurando o braço da vítima e dizia “não precisa ficar brava porque eu quero te fazer um carinho”.
Maio/2021 – Uma moradora de Campinas registrou boletim de ocorrência por importunação sexual contra o mesmo médico na delegacia de defesa da mulher.
A vítima disse que esteve na clínica dele para uma consulta, quando o médico a mandou tirar a máscara e disse “você é muito bonita, uma princesa”.
Ela estranhou o fato dele fazer muitas perguntas pessoais e, no fim da consulta, o médico abraçou e beijou a paciente nos dois lados do pescoço e depois na testa.
2023 – O médico foi alvo de outras três denúncias de importunação sexual. As vítimas registraram boletins de ocorrência, em Campinas, no 5º distrito policial e na delegacia da mulher, e também na delegacia de Paulínia.
Em um dos casos, a vítima relatou que no ano anterior, 2022, o neurocirurgião tentou agarrá-la e beijá-la dentro de uma clínica do bairro Botafogo, mas a vítima conseguiu se desvencilhar.
Em outra data, quando voltou ao local para acompanhar a mãe em uma consulta, o médico disse “não esqueça que você está me devendo algo”.
A mulher disse à polícia que outras duas mulheres da família também foram vítimas da importunação sexual do médico.
Agosto/2023 – Uma paciente relatou que o neurocirurgião se despediu dela com um beijo no rosto e, de surpresa, um beijo na boca. E continuou tentando beijá-la, dizendo que ela era bonita.
Setembro/2023, outra mulher foi até a delegacia de Paulínia denunciar o médico. Ela disse que durante consulta na clínica dele, o neurocirurgião a beijou e tocou em seus seios, e mostrou a genitália para ela.
A vítima passou por uma cirurgia com o médico no Hospital Irmãos Penteado. Após a cirurgia, ele deu a entender que havia tido conjunção carnal enquanto a paciente se recuperava da cirurgia.
Ainda segundo a mulher, durante os quatro dias de internação, ela foi assediada pelo médico, que passava as mãos na genitália, nádegas e seios dela. E que os fatos foram relatados para uma enfermeira do hospital.
O que dizem os hospitais
O Hospital de Clínicas da Unicamp disse que acompanha o caso com atenção, respeitando os trâmites legais e a autoridade dos órgãos competentes.
Segundo o HC, o médico atuava eventualmente no Caism, Hospital da Mulher da Unicamp, mas em casos de emergência e sempre acompanhado de médicos residentes.
A unidade informou também que ele pediu férias e, depois neste período, será afastado até a conclusão do processo administrativo ligado ao profissional. O hospital disse também que o nome do médico será retirado do site, onde consta o quadro profissional.
O Hospital Irmãos Penteado informou que não pode comentar sobre o caso por impedimentos de ordem legal, conforme orientado pelo Departamento Jurídico.
Disse ainda que, quando recebe denúncia dessa natureza, toma providências previstas em lei e em normas internas. Além de comunicar autoridades competentes.
Cremesp
O Cremesp informou que, tendo em vista que não há legislação atual que obrigue o médico a informar ao conselho quais são os locais em que trabalha, há um prazo necessário para que a autarquia pesquise e identifique tais instituições, produza o ofício e envie o documento. Ressaltou que a interdição cautelar foi prontamente publicada no diário oficial da união e divulgada nos sites do Cremesp e do Conselho Federal de Medicina, para que o público consulte a situação do referido médico.
Unimed
A Unimed – citada por uma das denunciantes – informa que não admite qualquer forma de violência contra seus beneficiários e que todas as medidas são aplicadas às pessoas que atentem contra clientes. Relativamente ao caso em questão, a Unimed esclarece que, em razão das denúncias, na época, suspendeu o referido médico, que segue afastado dos quadros da cooperativa.
O que diz a defesa do médico
“A defesa técnica do Médico Neurocirurgião, diante de recentes reportagens veiculadas na imprensa, vem a público esclarecer o seguinte:
Os fatos mencionados nas matérias é de conhecimento do médico e de sua defesa, que, desde o início, têm adotado todas as providências legais cabíveis para o esclarecimento do caso.
O médico nega as acusações que lhe foram imputadas e tem mantido postura transparente e colaborativa perante as autoridades competentes, sempre com respeito à Justiça, à verdade dos fatos e às partes envolvidas.
Como demonstração de compromisso com a lisura da apuração, o médico afastou-se, totalmente, das funções profissionais relacionadas aos episódios sob investigação, visando preservar a integridade do processo e assegurar um ambiente isento e sereno para o seu curso.
O investigado já prestou esclarecimentos formais à autoridade policial, apresentou documentos relevantes, indicou testemunhas e sugeriu diligências capazes de comprovar a regularidade de sua atuação profissional.
A defesa confia plenamente na atuação responsável das instituições e na rigorosa observância dos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa e da presunção de inocência.”