Um ano depois da maior tragédia ambiental registrada no Rio Piracicaba, os reflexos da mortandade de peixes ainda são visíveis e afetam diretamente quem depende do rio para viver. A falta de peixe comprometeu a atividade de pescadores da Área de Proteção Ambiental do Tanquã, conhecida como o “Minipantanal Paulista”, e o repovoamento do rio deve levar anos.
Em julho de 2024, o despejo irregular de resíduos de cana-de-açúcar provocou a morte de mais de 253 mil peixes ao longo de 70 quilômetros do rio. A Cetesb apontou como responsável a Usina São José, de Rio das Pedras, que recebeu uma multa de R$ 18 milhões. A penalidade, no entanto, ainda está em fase de recurso administrativo.
A licença de operação da usina continua suspensa. Segundo a Cetesb, a empresa precisou executar um plano de adequações técnicas, incluindo a reforma de tubulações, instalação de novos medidores e construção de um novo sistema de tratamento de efluentes. Essas ações estão em fase final de implantação e são acompanhadas por equipes técnicas do órgão ambiental.
Além disso, a Cetesb intensificou o monitoramento da qualidade da água, com a instalação de uma nova sonda automática em Monte Alegre, além do ponto já existente em Artemis. A fiscalização também foi reforçada em parceria com a prefeitura de Piracicaba, o Ministério Público e o Comitê das Bacias PCJ.
A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de Piracicaba soltou, em outubro do ano passado, 95 mil alevinos na tentativa de ajudar na recomposição do ecossistema, mas a estimativa de analistas ambientais é que o processo de recuperação do rio seja lento. O impacto da mortandade, somado a outras três ocorrências registradas no ano passado — uma em janeiro e duas em março —, comprometeu o ciclo de reprodução e a cadeia alimentar do Tanquã.
O analista ambiental Antônio Fernando Bruni Lucas explica que não há solução rápida para a recuperação dos peixes no Rio Piracicaba. Ele avalia que, no caso das espécies comerciais, como o dourado, são necessários de três a quatro anos para que elas recuperem a capacidade reprodutiva.
Lucas afirma que existem formas de recuperar a vida aquática, mas descarta a possibilidade de inserir artificialmente novos peixes. Para ele, é necessário combater a poluição, o desmatamento e o habitat destruído dos peixes.
A investigação sobre a tragédia ambiental segue em andamento no Ministério Público. Segundo o órgão, a usina já era alvo de outro inquérito sobre segurança ambiental. Com essa ocorrência, foi instaurado um procedimento específico para apurar as responsabilidades e os danos causados.
A estimativa da Cetesb é que mais de 50 toneladas de peixes morreram com o despejo. A análise da água detectou nível zero de oxigênio dissolvido, o que torna impossível a sobrevivência da fauna aquática. Além do forte odor, a água apresentava coloração escura e presença de espuma.
A APA do Tanquã ocupa uma área de 14 mil hectares e abriga mais de 735 espécies de animais e 300 tipos de plantas. A destruição desse ecossistema impactou também a dinâmica de aves e o comportamento migratório de várias espécies. Cerca de 50 pescadores cadastrados entre Piracicaba e São Pedro foram diretamente afetados pela tragédia.
A Usina São José, em todos os momentos, alegou que não havia como provar que o despejo do resíduo havia causado a mortandade, e por isso questionou a multa. Também afirma que está cumprindo as determinações na Cetesb.