Queda de avião em Vinhedo completa 1 ano; relembre o que aconteceu

arquivo pessoal

O relógio marcava 13h22 da sexta-feira 9 de agosto de 2024. O que parecia ser mais um avião passando pelo bairro Capela, em Vinhedo, na região de Campinas, se transformou em um momento que não sai da memória de ninguém.

A aeronave da Voepass Linhas Aéreas, antiga Passaredo, despencar em parafuso. O voo partiu de Cascavel, no Paraná, com destino ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. A bordo, 58 passageiros, quatro tripulantes e um cachorro. Muitos estavam indo para um congresso de medicina na capital.

O avião caiu em um condomínio residencial e atingiu parte de uma casa. O morador dela por pouco não foi atingido, e isso só não aconteceu porque ele decidiu ir para o lado oposto de onde a cauda do avião parou. Ele deu uma única entrevista no dia do acidente. Depois, falou com a CBN apenas por mensagem de texto, dizendo que tinha ganhado 62 filhos. Mas, após essa conversa, preferiu nunca mais aparecer. Vizinhos contaram que ele e a família se mudaram poucos meses depois, sem contar o destino. A casa ainda segue em reforma.

62 histórias. Havia quem nunca tinha viajado de avião. Quem já estava habituado. Tripulantes experientes. As famílias decidiram se unir em uma associação, sem distinguir quem era funcionário ou não. O objetivo é pedir justiça e explicações.

Em setembro do ano passado, um relatório preliminar do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) indicou que uma sucessão de fatores provocou a perda de sustentação do avião, modelo ATR 72-500. No dia, fazia frio, chovia e havia um alerta para formação de gelo em altitudes que aviões costumam voar.

O diretor do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, Carlos Eduardo Palhares Machado, reconheceu que as primeiras informações indicam um possível mau funcionamento do sistema de degelo das asas, que foi acionado três vezes pelos pilotos antes da queda.

O sistema de degelo do ATR funciona como se fosse uma bolsa, que infla e esvazia durante o voo, e quebra as camadas de gelo que se formam na parte da frente da asa. O bom funcionamento desse sistema é obrigatório e fundamental, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil, para que a aeronave voe em segurança em condições de formação de gelo.

Nesta semana, uma nova denúncia deixou familiares ainda mais angustiados. Um ex-funcionário que trabalhava no hangar da Voepass, em Ribeirão Preto, relatou que o piloto que trabalhou no voo anterior ao do acidente notou que o mecanismo estava com defeito. Mas, como a informação não foi colocada no diário de bordo técnico da aeronave, deixou de ser inspecionado pela manutenção da empresa.

Segundo o ex-funcionário, o voo onde o problema do degelo apareceu antes do acidente foi entre Guarulhos e Ribeirão Preto. O ATR da Voepass saiu de Guarulhos a meia noite e 12 do dia 9 de agosto do ano passado e pousou em Ribeirão perto de 1h. A aeronave ficou parada por 4h30 antes de entrar em operação novamente.

A Polícia Federal não vai comentar o depoimento do ex-funcionário. Durante as investigações, o Cenipa emitiu um relatório preliminar que mostra que as caixas pretas do avião registraram diálogos entre os pilotos. Apesar do contato constante com os controladores, em nenhum momento houve qualquer indicação da pane ou pedido de emergência. As falas são tranquilas, e seguem o padrão de comunicação esperado na aproximação para pouso. Os pilotos, porém, chegaram a mencionar problemas no sistema de degelo da aeronave.

O advogado que representa as famílias das vítimas do acidente da Voepass, Luciano Katarinhuk, se reuniu nesta quinta-feira com o delegado-chefe da Polícia Federal de Campinas. Os detalhes da reunião não puderam ser divulgados. Katarinhuk disse estar otimista com o andamento dos trabalhos, mas cobrou agilidade na punição dos responsáveis.

Em junho, a companhia aérea Voepass teve as operações suspensas pela diretoria colegiada da Anac, por avaliar graves falhas de segurança nas operações da empresa.

Neste sábado, um memorial será inaugurado em lembrança às 62 vítimas. O local não vai ficar no residencial onde o avião caiu, mas em um outro espaço, também em Vinhedo.

Em nota, a Voepass não quis comentar a denúncia do ex-trabalhador, e informou que sempre cumpriu as exigências de segurança e que a frota sempre esteve apta para realizar voos. A Anac disse que acompanha a investigação do Cenipa, e analisa os desempenhos de manutenção por meio de auditorias presenciais e remotas. A Agência Nacional de Aviação Civil informou ainda que a aeronave estava em condições de operação e que os documentos estavam todos regulares.

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