Há uma preocupação evidente na nossa região. Um levantamento feito pela prefeitura de Campinas aponta que 25% das exportações da cidade tem os Estados Unidos como destino, cerca de US$ 250 milhões por ano, e o tarifaço pode impactar até 40% do total.
Até por isso, Campinas integra a Comissão Nacional de Cidades Exportadoras, que vai negociar com governos federal e estudal novas medidas para reduzir os impactos da tarifa. A Região Metropolitana é uma das que mais exportam aqui no Estado.
Autopeças, tecnologia, máquinas e indústria química não escaparam das quase 700 exceções determinadas pelo governo dos Estados Unidos. O café, que foi responsável por 16,7% de tudo que foi exportado no ano passado, totalizando US$ 2 bilhões, também não escapou. Aqui na nossa região, Espírito Santo do Pinhal e Santo Antônio do Jardim estão preocupadas.
As cidades produziram, em 2024, 1,2 milhão de sacas, conforme dados da Secretaria Estadual de Agricultura, 25% do total do Estado. Os municípios estão vinculados à regional de São João da Boa Vista.
João Moraes é engenheiro agrônomo e produtor de café em Santo Antônio do Jardim. Ele produz 3 mil sacas de café por ano na propriedade, que tem 85 mil hectares. Este ano, ele já havia decidido não exportar o produto aos Estados Unidos, mas acredita que o mercado será impactado com a tarifa por causa do aumento da demanda no mercado nacional.
O presidente do Conselho do Café da Região de Pinhal, Henrique Gallucci, não acredita que a tarifa de Trump vai se sustentar.
E aí tem que se pensar em alternativas para agregar valor. O João disse que, na fazenda dele, passou a investir no turismo rural. À propósito, a região de Pinhal foi incluída no ano passado em uma das cinco rotas do Vinho de São Paulo, reforçando o desenvolvimento nesse tipo de turismo.
Analisando o cenário da região, o advogado especialista em Direito Tributário e Aduaneiro, João Paulo Rezende, afirma que não é viável para as empresas abrir mão de margem de lucro –até porque seria praticamente impossível conseguir cobrir a taxa adicional de 50%. Em entrevista ao CBN Campinas, ele entende que os governos devem oferecer benefícios para tentar reduzir o prejuízo.
São Paulo também vai liberar R$ 1,5 bilhão em créditos acumulados de ICMS, por meio do programa ProAtivo. A discussão sobre o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços não surgiu agora. É uma questão antiga, em que há entendimentos que o imposto pode ser creditado como uma forma de compensar a alíquota paga na hora da venda.
O Brasil tem discutido a possibilidade de abrir novos mercados para escoar as produções daqueles produtos que vão perder espaço nos Estados Unidos por causa da tarifa. Para João Paulo, no caso do café, a China até pode comprar um pouco mais da produção nacional, mas a quantidade ainda é muito pequena e o frete acaba não compensando.
De qualquer forma, o cenário atual ainda é de muita incerteza, já que as tarifas começaram a valer apenas nesta quarta-feira, e as negociações não foram encerradas.
O Cecafé, que reúne as empresas exportadoras, e a Abic, das indústrias, seguem em conversas com parceiros comerciais norte-americanos, que tentam, por lá, fazer pressão para a derrubada da taxa.
Os outros setores estão junto com o comitê criado pelo governo federal para discutir a taxação.