O tempo médio de espera por uma córnea quase dobrou no intervalo de dez anos no estado de São Paulo.
De acordo com o Congresso Brasileiro de Oftalmologia, realizado no final de agosto, o tempo médio que era de 126 dias em 2015, passou a 247 em 2024.
Um drama vivido pelo cardiologista Sílvio Luiz de Oliveira, que necessita do quinto transplante desse tipo desde a adolescência.
Diagnosticado com ceratocone, a doença que pressiona a córnea para frente e prejudica a visão, ele já está na fila há 30 dias.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, entre janeiro e julho de 2025, São Paulo realizou 3.374 transplantes de córnea, aumento de 23% em relação ao mesmo período do ano passado.
Ainda assim, o número não necessariamente contribuiu para a redução da fila, já que a córnea é um órgão e precisa de uma compatibilidade para que possa ser passada de um doador para um receptor.
A coordenadora do Comitê de Banco de Olhos da Sociedade Brasileira de Córnea, Aline Moriyama, diz que o único caminho para contornar essa dificuldade de encontrar doadores compatíveis é a diversificação dos itens.
Mas para quem está à espera do órgão, os prejuízos acumulados podem ir muito além da perda da visão.
Ao mexer com a capacidade de socialização, podem acarretar consequências difíceis de serem revertidas, como avalia o médico oftalmologista Ricardo Ortolan.
Para conquistar a confiança de novos doadores, a coordenadora geral do Sistema Nacional de Transplantes, Patrícia Freire, reconhece a importância de qualificar ainda mais a estrutura de coleta e de doação desses órgãos.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde reconheceu a existência da fila, mas afirma investir em campanhas de conscientização para a doação de órgãos e de tecidos.
O governo paulista também afirma ter lançado uma área no aplicativo do Poupatempo para orientar sobre os caminhos para efetivar a doação de córnea.