O Hospital PUC-Campinas costuma receber visitas de diferentes grupos que buscam auxiliar no tratamento principalmente das crianças no setor de pediatria. Recentemente, esses corredores que geralmente marcados por preocupações e cuidados médicos, o som do riso tomou conta do ambiente com a chegada do projeto “Rumo ao Riso”, que utiliza a risoterapia como ferramenta de acolhimento, empatia e bem-estar.
Idealizada pela atriz e risoterapeuta Gabi Roncatti, a iniciativa é formada por voluntários que se dedicam a transformar o ambiente hospitalar por meio da arte. Vestidos de palhaços, eles percorrem as alas de internação levando brincadeiras, presentes, desenhos e conversas leves para pacientes, familiares e profissionais de saúde.
Mais do que um momento de descontração, a proposta tem base científica: o riso estimula a liberação de endorfinas, melhora a oxigenação do corpo, fortalece o sistema imunológico, ajuda no alívio da dor e reduz o estresse. Para quem enfrenta dias de internação, ele se torna também uma forma de esperança.
No quarto onde estava internado o pequeno Vitor, de 8 anos, o clima foi de festa. Ele aguardava ansiosamente a alta médica após 15 dias internado por conta de um grave acidente de bicicleta. A Noélia Ramos, avó de sangue, mas que cria o pequeno como mãe, conta que o menino chegou entubado e passou por cirurgia na cabeça. E ver o Vitor sorrir novamente foi muito bom.
“Ele é louco por brinquedo, adora palhaço. Sempre fala ‘mamãe, vamos no circo ver o palhaço?’. Foi muito divertido, muito legal mesmo. Dá um ânimo a mais, inspira. Ele estava ansioso pra ir embora, e essa visita ajudou muito”, contou Noélia, emocionada.
O riso como respiro
A risada também trouxe leveza para quem enfrenta longas internações. O garoto Pedro Lukas, de 12 anos, está há quatro meses tratando complicações causadas pela diabetes. Acompanhado por Lucineide Diniz, cuidadora do abrigo “Fonte de Água Viva”, ele recebeu a visita dos palhaços com entusiasmo.
“Essas visitas são maravilhosas. Ficar aqui dentro é desgastante, então quando eles vêm, anima. Ele fica mais contente, mais feliz. Devia ter mais vezes”, disse Lucineide.
Pedro, que adora desenhar, guarda os presentes e desenhos feitos pelos voluntários com carinho.
“Eu sinto mais alegria quando eles estão aqui. Oro muito pra Deus pra me livrar daqui, e tenho fé que vou embora logo. Tudo tem tempo, tudo tem hora. Peço pra Deus me dar cura dessa diabetes. Ele tá me ajudando muito”, contou o menino, com um sorriso tímido, mas cheio de esperança.
O poder do palhaço
Entre os personagens que visitaram o hospital estava a “Doutora Gabiruta”, uma das figuras criadas por Gabi Roncatti. De jaleco colorido e nariz de palhaço, ela descreve o trabalho de forma lúdica:
“A gente dá amor pra essas crianças e sabe o que acontece? Elas soltam bolinhas de alegria! Quanto mais felizes e mais risadas elas dão, melhor elas ficam.”
Já como Gabi, fora do personagem, a atriz explica que há ciência por trás da fantasia.
“A risoterapia aumenta a imunidade, controla a pressão e reduz o cortisol. Trabalhar num hospital é desafiador, mas quando estamos aqui o tempo para. Poder fazer com que as pessoas saiam um pouco desse ambiente e se conectem com o riso é uma satisfação absurda”, afirmou.
Uma aliada no tratamento
Para a médica residente Isabel De Luca, da pediatria do Hospital da PUC-Campinas, o projeto tem impacto direto no bem-estar dos pacientes.
“Muitos chegam em estado grave e permanecem internados por bastante tempo. As crianças não conseguem ficar deitadas o tempo todo, então projetos como o ‘Rumo ao Riso’ ajudam a manter a interação social e o contato com o lúdico, que é essencial para o tratamento”, explicou.
Com arte, empatia e ciência, o Rumo ao Riso mostra que o riso é mais do que um gesto espontâneo, é também um instrumento de cura e acolhimento.