Vereadores falam sobre suposta “rachadinha” em emendas da saúde; MP investiga Câmara de Campinas

Foto: Arquivo CBN Campinas

A investigação do Ministério Público sobre um possível esquema de “rachadinha” envolvendo emendas impositivas destinadas à Irmandade de Misericórdia de Campinas, mantenedora da Santa Casa e do Hospital Irmãos Penteado, levou a Prefeitura a suspender temporariamente os repasses à instituição. A medida também provocou reação entre vereadores e ex-vereadores que, nos últimos anos, destinaram recursos à entidade.

Em respostas à CBN Campinas, parlamentares de diferentes partidos afirmaram apoiar as apurações e defenderam transparência na execução das emendas, que atualmente são instrumentos que permitem aos vereadores indicar diretamente parte do orçamento municipal para ações nas áreas de saúde, educação, assistência e infraestrutura.

O procedimento do MP, instaurado após denúncia anônima, apura se parte dos valores teria sido desviada por meio de devolução irregular de recursos, prática conhecida como “rachadinha”. Entre 2024 e 2025, a Irmandade recebeu, segundo levantamentos, cerca de R$ 25,6 milhões em emendas impositivas indicadas por parlamentares.

A denúncia ao MP teria partido de um ex funcionário da Câmara. Segundo a comunicação anônima, o esquema funcionaria com os vereadores recebendo uma contraprestação, o equivalente a 10% do valor, quando se tratava de recursos para atendimento de saúde, e até 20% do valor repassado, quando o recurso é destinado para compra de equipamentos ou reformas. De acordo com o informado, os pagamentos seriam autorizados pelo provedor da entidade. Consta, ainda, que seriam priorizados os vereadores que destinam valores acima de 300 ou 400 mil reais.

Veja quanto os vereadores empenharam à Santa Casa e Irmãos Penteado

VereadorPara o ano de 2023Para o ano de 2024Para o ano de 2025
Arnaldo SalvettiNadaR$ 646.519,00R$ 950.000,00
Nelson HossriR$ 600.000,00R$ 100.000,00R$ 1.200.000,00
Luiz CiriloNadaR$ 200.000,00R$ 50.000,00
Paulo GasparNadaR$ 100.000,00R$ 150.000,00
Major JaimeNadaR$ 100.000,00R$ 120.000,00
Debora PalermoNadaR$ 300.000,00R$ 100.000,00
Mariana ContiNadaNadaNada
Cecílio SantosNadaNada Nada
Guida CalixtoNadaNadaNada
Paolla MiguelNadaR$ 100.000,00Nada
Gustavo PettaNadaNadaR$ 50.000,00
Marrom CunhaNadaR$ 450.000,00R$ 550.000,00
Luiz RossiniR$ 200.000,00R$ 300.000,00R$ 400.000,00
Carlinhos CamelôNadaNadaR$ 199.000,00
Otto AlejandroNadaNadaR$ 1.594.000,00
Jorge SchneiderNadaNadaNada
Paulo HaddadNadaR$ 100.000,00Nada
Rodrigo da FarmadicNadaNadaR$ 100.000,00
Jair da FarmáciaNadaR$ 250.000,00R$ 1.094.000,00
Higor DiegoNadaR$ 1.000.000,00R$ 1.444.000,00
Eduardo MagogaNadaR$ 150.000,00R$ 50.000,00
Permínio MonteiroNadaR$ 546.518,00R$ 600.000,00
Zé CarlosNadaR$ 200.000,00R$ 400.000,00
Marcelo da FarmáciaR$  263.952,00R$ 500.000,00R$ 50.000,00
Carmo LuizNadaR$ 1.900.000,00R$ 1.600.000,00
Edison RibeiroNadaNadaNada
Filipe MarchesiNadaNadaNada
Rubens GásNadaR$ 100.000,00R$ 907.000,00
Fernando MendesNadaR$ 188.000,00R$ 1.000.000,00
Juscelino da BarbarenseNadaR$ 500.000,00R$ 894.000,00
Marcelo SilvaNadaR$ 303.037,00R$ 1.064.000,00
Edvaldo CabeloNão havia sido empossadoR$ 300.000,00R$ 250.000,00
Paulo BufaloNadaNadaR$ 100.000,00

Quem respondeu e o que disseram

  • Paulo Gaspar (ex-vereador)
    Afirmou que a indicação foi feita a pedido da instituição e que concorda com a investigação. Disse não ter acompanhado a execução por ter deixado o mandato.
  • Juscelino da Barbarense (ex-vereador)
    Declarou apoio à apuração e disse prezar pela honestidade e transparência.
  • Edivaldo Cabelo (ex-vereador)
    Chamou a denúncia de “estarrecedora”; detalhou que R$ 300 mil (2024) e R$ 250 mil (2025) foram destinados ao Centro de Tratamento de Queimados e disse ter acompanhado a execução presencialmente. Apoia a investigação.
  • Gustavo Petta (vereador, PCdoB)
    Defendeu a apuração séria e informou que, enquanto as investigações perdurarem, seu mandato não destinará novas emendas à Irmandade. Lembrou que R$ 50 mil previstos para 2025 foram solicitados pela própria entidade.
  • Higor Diego (vereador, Republicanos)
    Explicou que sua emenda de R$ 1 milhão (2024) teve motivação técnica — redução da fila de catarata — e que os recursos foram aplicados em mutirão coordenado pela Secretaria de Saúde. Afirmou acompanhar por relatórios, visitas e portal de transparência, e afirmou apoiar suspensão enquanto houver pendências.
  • Paulo Haddad (vereador, PSD)
    Relatou ter destinado R$ 100 mil (2023) para melhorias em alas de internação; declarou que acompanhou a execução e que, após análise, optou por não indicar emendas à Irmandade em 2025/2026. Apoia a investigação.
  • Rodrigo da Farmadic (vereador, União Brasil)
    Esclareceu que indicou recursos por se tratar de unidade conveniada ao SUS e sem alertas de irregularidade à época; ressaltou que a fiscalização é da Secretaria de Saúde e defendeu apuração rigorosa do MP.
  • Rubens Gás (vereador, PSB)
    Disse ter recebido pedido formal da Irmandade e confiou nos critérios técnicos da Secretaria de Saúde para análise e repasse. Apoia a apuração.
  • Major Jaime (ex-vereador)
    Enviou nota afirmando que a destinação seguiu documentação técnica e visitas in loco; defendeu melhoria dos mecanismos de controle e transparência.
  • Débora Palermo (vereadora, PL)
    Informou que destinou recursos em anos anteriores; acompanha execuções pelo portal de emendas e pela Secretaria, e que aguardará as apurações antes de novas destinações. Apoia a investigação.
  • Marcelo Silva (vereador, PP)
    Informou que a emenda de 2024 (troca do telhado no Centro de Queimados) foi executada; a emenda de 2025 não foi exequível porque o repasse foi suspenso.
  • Carlinhos Camelô (vereador, PSB)
    Informou que destinou suas emendas impositivas prioritariamente à Secretaria de Saúde, com foco na rede hospitalar pública e conveniada, incluindo a Irmandade de Misericórdia de Campinas, que recebeu R$ 199 mil em 2024 — o menor valor entre suas indicações, aprovado após visita técnica e pedido da própria direção. Disse que as indicações foram baseadas em demandas reais e diálogo com gestores da saúde e reafirmou o comprometimento com a transparência e a responsabilidade no uso dos recursos públicos.
  • Paulo Bufalo (ex-vereador)
    Explicou que, durante seu mandato, as emendas foram definidas com base em escutas de conselhos e coletivos sociais. Disse que destinou R$ 100 mil à Irmandade de Misericórdia em 2025 para compra de equipamentos hospitalares, após aferição técnica e indicação da Secretaria de Saúde. Defendeu o aprimoramento dos mecanismos de controle e fiscalização das emendas e afirmou que o MP tem papel importante nesse processo.
  • Jair da Farmácia (ex-vereador)
    Informou que as emendas destinadas à Irmandade passaram por todas as instâncias legais de auditoria e fiscalização e foram voltadas à compra de insumos, equipamentos e melhorias no atendimento. Disse acompanhar de perto as investigações do Ministério Público e defendeu o correto emprego dos recursos públicos na saúde.
  • Luiz Rossini (vereador, Republicanos; presidente da Câmara)
    Afirmou que a Santa Casa é entidade da maior credibilidade. E lamentou ver notícias que denigrem a imagem da entidade e da própria Câmara. Além disso, destacou a importância das emenda impositivas e disse que caso existam provas que materialize alguma irregularidade será investigado também na Câmara.
  • Eduardo Magoga (vereador, Podemos)
    Declarou que a destinação seguiu pedido formal da entidade e trâmites legais; que a decisão de suspender deve ser respeitada se houver indícios sólidos, mas alertou para o risco de prejudicar o atendimento à população caso a entidade seja injustamente penalizada. Afirmou que, enquanto não comprovadas irregularidades, não vê motivo para interromper emendas legítimas, mas apoiará auditoria e transparência.
  • Nelson Hossri (vereador, PSD)
    Disse que é a favor de emendas para a saúde, desde que cada real sejam fiscalizados pelo vereador e Ministério Público, que tem o dever de garantir transparência e resultado.
  • Paolla Miguel (vereadora, PT)
    Informou que seu mandato destinou R$ 100 mil em 2023 à Santa Casa após pedido formal e avaliação técnica; disse acompanhar execuções por visitas e contato com secretarias. Considerou acertada a investigação do MP diante de indícios e defendeu regulamentação mais detalhada e maior transparência no processo de emendas impositivas.
  • Arnaldo Salvetti (vereador, MDB)
    Relatou que as destinações ocorreram após apresentações das instituições — como maternidade e Santa Casa — e que o envio de recursos foi condicionado a prestações de contas apresentadas pela entidade. Pediu que eventuais irregularidades sejam apuradas e defendeu maior objetividade e transparência nas prestações de contas.

Emendas suspensas e em execução — 2025

A Prefeitura de Campinas acatou recomendação do promotor responsável e suspendeu por 30 dias os repasses das emendas impositivas destinadas à Irmandade, com exceção dos gastos de assistência direta à população considerados emergenciais. Segundo levantamento da CBN Campinas, parte das emendas previstas para 2025 não chegou a ser executada no momento da suspensão — alguns repasses sequer foram liberados, outros estavam em fase de prestação de contas.

O MP requisitou à Prefeitura cópia de todas as emendas executadas e efetivadas para a Irmandade entre 2024 e 2025, além de comparativos com o que foi destinado a outras entidades conveniadas do SUS no município.

Vereadores que não se pronunciaram

Até o fechamento desta reportagem, alguns vereadores e ex-vereadores que constam como indicantes de emendas à Irmandade não se pronunciaram, mas a CBN Campinas reforça que publicará manifestações adicionais assim que chegarem.

Vale lembrar que em abril deste ano, já houve outra denúncia que envolvia suposta rachadinha de vereadores de Campinas: neste caso, entre artistas e parlamentares, o que também motivou medidas de controle e auditoria nos repasses à Secretaria de Cultura.

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