As placas de “aluga-se” estão espalhadas pelas portas de ferro, cada vez mais baixadas e trancadas. Assim é o cenário da rua Bernardino de Campos e da avenida Thomaz Alves, duas das ruas incluídas no novo conjunto de obras do projeto “Nosso Centro”, da Prefeitura de Campinas.
O pacote, anunciado em outubro, incluiu as duas vias e a rua Costa Aguiar na proposta de requalificar uma região que sofre com a perda de movimento. Mas a falta de detalhamento do projeto assustou os proprietários de comércios, que temem uma perda ainda maior de movimento durante as obras.
A Rita, que é síndica de uma galeria na Avenida Thomaz Alves, reclama não ter recebido a visita oficial de nenhum representante da Prefeitura para discutir e apresentar o projeto. “Ouviu-se algum comentário, mas nunca ninguém explicou com nenhum tipo de informação. A gente paga aluguel. A gente tem IPTUs caríssimos. A gente não sabe o que vai reverter em cima disso nem o que vai ser feito”, reclama.
Enquanto isso, os problemas persistem no Centro. O Geraldo é dono de um restaurante, e reclama do vandalismo dominante na região. “Olha o meu toldo, acabei de ser vítima. Você acaba de pintar, de reformar, de trocar um negócio, passa um vândalo na rua e estraga, deteriora”, denuncia o proprietário.
O barbeiro Francisco está há 10 anos na região, reconhece que as intervenções podem ser importantes, mas precisam vir acompanhadas de soluções para o desafio da população em situação de rua. “Eu não sei o motivo de tanta gente de dez anos para cá, tem aumentado muito. E com isso, os comerciantes estão fechando as portas, também por conta do abandono do poder público aqui no Centro de Campinas”, questiona.
A secretária de Urbanismo, Carolina Baracat, explica que além da intervenção urbanística, o Nosso Centro também terá benefícios fiscais para incentivar a ocupação da região por moradias, e atrair novos comércios. “A gente tem uma lei do Procentro que permite que mais de 80 CNAEs, atividades, uma redução do ISSQN de 5% para 2%, fazendo com que essas atividades na área de Saúde, de Educação… Atividades econômicas e prestação de serviço que tragam pessoas, que movimentam, isso justifica a redução do ISSQN para essas atividades comerciais”, explica.
Mas será que essas mudanças vão devolver o Centro à sua característica de outras épocas? Esta foi uma das perguntas que fizemos ao arquiteto e urbanista Fábio Muzetti.
Ele denuncia as consequências da saída do poder público da região central como uma das principais razões para o enfraquecimento do comércio. “Eu acho que o tiro de misericórdia dado no abandono do Centro foi a saída do poder público, tanto Judiciário que abandona o Palácio da Justiça e se muda para a Cidade Judiciária, quanto a Câmara dos Vereadores, que vai para a saída de Valinhos”, comenta.
De acordo com a Prefeitura, o Nosso Centro também contempla a reativação do Palácio da Justiça como uma das medidas para estimular a circulação de pessoas pela região.
A CBN Campinas também procurou a Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas) para obter mais detalhes sobre o projeto e os prazos da obra. Por meio de nota, a autarquia ressaltou que está responsável pelo projeto das ruas compartilhadas, como a Thomaz Alves e a Bernardino de Campos.
Nas duas vias, os projetos ainda estão em fase de estudo para elaboração, e por essa razão não é possível falar em prazos e em custos.



