Documentos mostram como funcionava suposto esquema de fraudes na Educação

Empresário André Mariano deixa a sede da PF de Campinas na quarta-feira (12) (Foto: Kevin Kamada/CBN Campinas)

Deflagrada nesta quarta-feira (12) pela Polícia Federal, a “Operação Coffee Break” mira um suposto esquema de superfaturamento na compra de materiais educativos por prefeituras municipais.

As fraudes foram apuradas em parceria com a Controladoria Geral da União em cidades de São Paulo, do Paraná e do Distrito Federal. Ao todo, os agentes cumpriram 50 mandados de busca e apreensão.

Outras seis ordens de prisão preventiva contra suspeitos de serem os articuladores do esquema também foram cumpridas contra André Gonçalves Mariano, apontado como sócio-administrador da empresa “Life Tecnologia Educacional”; o vice-prefeito de Hortolândia, Carlos Augusto César (PSB), o “Cafu”; o secretário de Educação de Hortolândia, Fernando Gomes de Moraes; e os empresários Abdalla Ahmad Fares, Eduardo Maculan e José Aparecido Ribeiro Marin. Até a noite desta quarta-feira, o mandado contra Marin não havia sido cumprido pela Polícia.

Documentos aos quais o Grupo EP teve acesso explicam a articulação do esquema de superfaturamento em materiais educativos, vendidos pela Life Tecnologia Educacional e comprados por Prefeituras da região.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a empresa superfaturava os valores de livros didáticos e kits de robótica vendidos para as redes de ensino. A partir da análise de movimentações financeiras, a Justiça Federal identificou movimentações atípicas para os padrões da empresa.

De acordo com o MPF, a LIFE adquiria livros com valores unitários entre R$ 1 e R$ 5, mas revendia para os municípios por valores entre R$ 60 e R$ 80.

As notas fiscais ajudaram a embasar as investigações. Em Sumaré, no período de 2021 a 2023, a Life recebeu mais de R$ 51,9 milhões da Prefeitura Municipal. Parte dos valores era oriundo do FUNDEB (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica).

em Hortolândia, o MPF aponta ganhos da Life superiores a R$ 17,9 milhões. Em Limeira, os lucros teriam superado os R$ 10,7 milhões. As movimentações teriam continuado a acontecer ao longo de 2024.

Os promotores também apontam que relatórios de inteligência financeira mostram como a Life usou sua elevada margem de lucro na aquisição de bens pessoais do seu sócio.

Empresas de fachada também aparecem na denúncia, e seriam controladas por “doleiros”. No entendimento da promotoria, o esquema buscava ocultar a origem e o destino das transações.

A Life Tecnologia Educacional tem, como sócio-administrador, o empresário André Gonçalves Mariano. Ele é apontado pelo Ministério Público como “um articulador corriqueiro de pagamentos indevidos a servidores públicos e lobistas”. Estes, seriam os responsáveis por garantir que a Life vencesse os pregões milionários junto às Prefeituras.

Relatórios de movimentação bancária mostram que a Life Tecnologia movimentou mais de R$ 128 milhões, por meio de 305 operações bancárias, entre janeiro de 2021 e julho de 2024.

Quase todos valores oriundos de recursos públicos, com destaque para os pagamentos feitos pelas prefeituras de Sumaré, Hortolândia, Morungaba e Limeira.

O Ministério Público Federal afirma que o empresário André Gonçalves Mariano, o sócio-administrador da LIFE, seria o principal beneficiário do esquema, com três objetivos:

  • A compra de carros de luxo, blindagens e imóveis;
  • A retroalimentação da compra de livros e kits de robótica para serem superfaturados;
  • E o pagamento de remessas para os doleiros, por meio de contas bancárias das empresas de fachada.

A promotoria também afirma, confirmando a linha de investigação, que apenas 17% dos valores movimentados eram direcionados para os fornecedores, ou seja, os fabricantes dos livros didáticos e kits de robótica que seriam superfaturados.

Outra característica da fraude seria o uso de uma das empresas de fachada como um “banco clandestino”. É o que aconteceu com a empresa identificada com o nome fantasia de “Les Barons”, que se apresentava como uma loja de vinhos.

Em nota enviada ao Grupo EP, a Life Tecnologia Educacional declarou que não irá se pronunciar sobre as investigações.

Já a defesa de Abdalla Ahmad Fares afirmou que, até esta quarta-feira (12), não havia tido acesso aos autos do processo, uma vez que ainda aguarda o cumprimento das medidas cautelares deferidas.

Os advogados afirmam que Fares atua exclusivamente nos setores supermercadista e de construção civil, e que não tem ligação com empresas de educação, nem com contratos públicos em Hortolândia e Sumaré. A defesa do empresário diz acreditar na inocência do seu cliente.

Em Sumaré, a atual gestão da Prefeitura informou que tem colaborado integralmente com as autoridades, fornecendo todos os documentos e informações solicitadas.

A Administração municipal reforçou que os fatos investigados referem-se exclusivamente à gestão anterior, e não envolvem contratos ou ações do governo atual.

Já a defesa do vice-prefeito de Hortolândia, Cafu César (PSB), afirma que os autos do processo ainda estão sendo analisados, e que deverá solicitar a reversão da prisão preventiva de Cafu.

A Prefeitura de Hortolândia informou que está à disposição dos órgãos de segurança para colaborar com as apurações.

Até o fechamento desta reportagem, não foram localizadas as defesas de Eduardo Maculan e José Aparecido Ribeiro Marin.

Compartilhe!

Pesquisar

Mais recentes

Nota oficial – Humanideia

Ponte estaiada de Hortolândia será fechada a partir desta quarta-feira para manutenção

Vice-prefeito de Hortolândia é preso em operação da PF que investiga fraudes em contratos

PODCASTS

Fale com a gente!

WhatsApp CBN

Participe enviando sua mensagem para a CBN Campinas

Veja também

Nota oficial – Humanideia

A CBN Campinas informa que o programa Humanideia, apresentado pelo escritor e filósofo Fernando Moraes, não será mais exibido pela emissora. A decisão foi tomada

Reportar um erro

Comunique à equipe do Portal da CBN Campinas, erros de informação, de português ou técnicos encontrados neste texto.