Estudo aponta fragilidade das políticas para as mulheres em Campinas; entenda

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Falta de autonomia e independência financeira; o estereótipo da divisão sexual do trabalho em casa; e um orçamento maior para a implantação de ações de proteção

Três pontos que pressionam e atrapalham a qualidade de vida da mulher no dia a dia em Campinas. Traços de um levantamento inédito realizado pelo Observatório PUC-Campinas

O material é resultado de uma cooperação entre a universidade e o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM). Para elaborá-lo, a PUC realizou os chamados “grupos focais”, rodas de escuta de 18 mulheres, de três grupos profissionais, que atuam diariamente em diversas áreas: trabalhadoras sindicais, educadoras e profissionais das entidades socioassistenciais. 

Juntas, elas chegaram à conclusão de que, apesar de importantes avanços registrados nos últimos anos, as políticas públicas voltadas à mulher ainda têm uma execução considerada bastante frágil. 

A pesquisadora Stela Cristina de Godoi, professora da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-Campinas, explica que o levantamento pauta percepções de que, apesar de a situação ter melhorado, a estrutura de proteção à mulher ainda pode ser aprimorada. “Eu acho que o CEAMO é super importante e senti muito na fala de todas ali como é uma política que funciona mas que precisa ser expandida. Precisa ter mais trabalhadoras vinculadas, sistemas integrados de notificação. Pro enfrentamento da violência, a prevenção é fundamental: o que a gente tem feito enquanto política pública pra mudar a mentalidade das pessoas, dos homens? Isso compartilhado também por algumas mulheres, de que o homem tem uma ‘relação de posse’ sobre a mulher”, detalha a docente.

Fragilidade de políticas públicas que se constata na rua, como a advogada Mônica Tedesco conhece há cinco anos. Junta das colegas Larissa e Yandra, elas criaram o projeto de dignidade menstrual “Mulheres Invisíveis”, que a cada dois ou três meses realiza a entrega de kits de higiene para mulheres em situação de rua

Hoje, são quatro voluntárias dedicadas a um contato humanizado com as mulheres que vivem nesses locais. Uma condição que vai muito além de uma simples “escolha”. “Não existe um motivo, mas a maior parte delas está na rua porque fugiu de violência doméstica e elas literalmente não têm para onde ir. Não é por uma escolha. Se elas não conseguem vaga em um abrigo ou se elas sofreram violência dentro de um abrigo, elas voltam para as ruas”, conta Mônica.

O estudo elaborado pela PUC foi articulado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM). Hoje, uma entidade independente e parceira da recém-criada Secretaria de Políticas para as Mulheres de Campinas. A titular da pasta, Alessandra Herrmann, destaca o fortalecimento dos CEAMOs (Centro de Apoio e Referência à Mulher), e o protagonismo crescente de projetos independentes como um braço de auxílio. “Além disso, estamos ampliando parcerias com coletivos femininos e organizações da sociedade civil que atuam nos bairros, porque acreditamos que o enfrentamento à violência e a promoção da igualdade de gênero só são possíveis com a participação ativa da comunidade”, comenta a secretária.

De acordo com o Censo 2022, as mulheres eram responsáveis pelo sustento de 49 de cada 100 lares de Campinas, ou praticamente 212 mil moradoras, um avanço de quase 53% em relação à edição anterior da pesquisa demográfica, 12 anos antes. No total, elas compunham 52,3% da população total, que há três anos era de 1,1 milhão de habitantes. 

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