Dados da Prefeitura mostram que até novembro, Campinas somava mais de 44 mil casos confirmados de dengue, a terceira pior marca da história, atrás apenas de 2024 e 2015.
Um trauma que a dona de casa Tatiane Oliveira, moradora da Vila União, não gosta de lembrar.
“Foi horrível, foram 25 dias que assim, eu chegava no posto e as meninas me punham no soro porque eu estava muito desidratada. Eu fiquei 20 dias sem comer. Nem água, não descia nada. É horrível. A rua inteira pegou na semana em que eu peguei”, conta.
Apesar de a gravidade da dengue alertar a comunidade do entorno, a reportagem da CBN encontrou muitos copinhos e garrafas jogados à margem de um parque linear no bairro.
Um preço que a própria comunidade acaba pagando, como a cabelereira Cristiane Aguiar vê todos os dias no seu salão. “Meu salão fica aqui em frente ao posto de Saúde. As minhas clientes mesmas falam que tiveram. Meu marido também ficou muito doente e nem da cama levantava”, conta.
Se, por um lado, a falta de consciência atrapalha o enfrentamento à dengue, por outro a ciência aposta em novas tecnologias para não perder a guerra contra a dengue em 2026.
A Vila União é um dos bairros do Distrito de Saúde Sudoeste, em Campinas, contemplados com a primeira fase da instalação de EDLs, as estações disseminadoras de larvicidas, ainda em abril.
Apesar do nome complicado, a proposta é bem simples: estamos falando de um balde com água, onde é colocado uma tela flutuante com um tipo de inseticida.
No caso, o larvicida, um produto capaz de matar larvas do mosquito. A ideia é atrair as fêmeas do Aedes aegypti, como detalha a agente de controle ambiental da Secretaria de Saúde, Aline Borges Oliveira. “A mosquita pousa para fazer a postura dos ovos e fica impregnada com o larvicida. Depois ela leva esse larvicida no corpinho, nas patinhas dela, para outras regiões onde ela vai fazer postura dos ovos também, deixando também um pouco de larvicida nesses criadouros”, explica.
Os equipamentos são instalados a até 1,5 metro do chão, a altura máxima em que o Aedes aegypti costuma voar. Segundo a Prefeitura, considerando o raio de voo do mosquito fêmea, o larvicida pode ser distribuído por até 400 metros.
Uma vez por mês, as armadilhas de mosquito recebem a manutenção dos agentes de saúde. Os moradores selecionados se comprometem, por um termo formal, a não mexerem nos dispositivos e autorizarem a visita dos agentes para a manutenção.
As estações são resultados de uma parceria com o Ministério da Saúde, que vai processar os dados e emitir relatórios para entender a evolução da doença.
Depois da região Sudoeste, chegou a vez do entorno do Centro de Saúde União de Bairros também ser contemplado com as estações disseminadoras de larvicidas.
Aline Borges afirma que a escolha dos bairros tem seguido critérios de vulnerabilidade social. “Não é a área com a maior incidência de casos do município, porém tem essa recorrência de casos e é uma área que a gente tem algumas questões de vulnerabilidade social. Um dos maiores desafios que a gente encontra são as dificuldades para abrir as casas, tanto para as vistorias de rotina casa-a-casa, quanto para a instalação da estação disseminadora de larvicida. Muitas casas fechadas, recusa”, detalha.
Segundo a Prefeitura, pelo menos 1,1 milhão de imóveis foram visitados pelos agentes de controle de endemias até meados de outubro.
Mais de 10 mutirões de recolhimento de resíduos também foram realizados, com a remoção de quase 47 mil toneladas de lixo potencial para se tornar criadouro.
Até meados de novembro, a metrópole soma mais de 45 mil casos confirmados, que ficam atrás apenas de 2024, quando foram 121 mil diagnósticos e 84 mortes; e 2015, com 65 mil casos e 22 falecimentos.




