A segurança hídrica voltou ao centro das discussões na Região Metropolitana de Campinas (RMC) após a apresentação, pelo Governo do Estado, do projeto de um sistema adutor interligando as represas de Amparo e Pedreira. A proposta foi apresentada a prefeitos da região como alternativa para ampliar a oferta de água e reduzir a pressão sobre mananciais historicamente sobrecarregados.
O modelo prevê uma Parceria Público-Privada (PPP), com licitação estimada para 2026 e prazo de obras de cerca de dois anos. Até que o sistema esteja em operação, os municípios seguem dependentes das estruturas atuais de abastecimento, em um contexto de recorrentes períodos de estiagem e maior variabilidade climática.
Um dos pontos que mais gera debate é o custeio do projeto. Apesar de o investimento ser estruturado por meio da PPP, a operação do sistema deverá ser paga pelas prefeituras. A definição levanta questionamentos sobre impacto nas tarifas e sobre a capacidade financeira das cidades, especialmente dos municípios de menor porte.
Para Campinas, o projeto é visto como estratégico. O município possui outorga do Sistema Cantareira, mas avalia que a nova adutora pode reduzir a dependência do Rio Atibaia em períodos críticos, permitindo uma redistribuição da pressão sobre os mananciais e beneficiando cidades localizadas a jusante do rio.
O Governo do Estado afirma que o contrato contará com recursos garantidos e que a iniciativa busca promover uma gestão integrada dos recursos hídricos, desde a produção e o armazenamento da água até a prestação do serviço à população.
De acordo com o Estado, 21 municípios das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí devem ser beneficiados direta ou indiretamente. A promessa é de regularização das vazões dos rios e de redução do impacto ambiental em momentos de escassez.
Especialistas, no entanto, ressaltam que a ampliação da infraestrutura, por si só, não resolve o problema histórico do abastecimento na região. Medidas estruturais como a preservação dos mananciais, a redução de perdas nas redes de distribuição e o incentivo ao uso racional da água continuam sendo fundamentais para evitar novos colapsos.
O debate ocorre em um cenário em que a água se consolida como tema central de qualidade de vida e justiça ambiental, especialmente para as populações mais vulneráveis, que sentem primeiro os efeitos das crises hídricas. O desafio da RMC é garantir que o projeto avance com transparência, participação social e planejamento de longo prazo, equilibrando infraestrutura, sustentabilidade e interesse público.




