A notícia que circulou pelo Circuito das Águas Paulista em julho de 2025 marcou o fim, ou ao menos uma suspensão drástica, de uma das maiores polêmicas de infraestrutura da região. O projeto que previa a instalação de novos e numerosos pedágios automáticos, o chamado free flow, foi oficialmente abandonado. A confirmação veio diretamente do Governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), durante um encontro em São Paulo realizado no mesmo mês com prefeitos do MDB.
A polêmica, que envolvia a concessão de 533 quilômetros de rodovias e afetava 33 municípios, como Amparo, Holambra, Jaguariúna e Serra Negra, representava uma mudança radical na mobilidade local. O projeto previa a instalação de 37 pórticos. O alívio na região foi palpável, principalmente entre as lideranças municipais que haviam se mobilizado fortemente contra a medida. A polêmica gerou atrito até mesmo com prefeitos que eram, em outros contextos, apoiadores do governo.
O prefeito de Amparo, Carlos Alberto Martins (MDB), que se tornou o principal porta-voz das cidades do Circuito contra a proposta, expressou gratidão e satisfação após a reunião. Em uma publicação nas redes sociais, o prefeito celebrou a decisão, classificando-a como justa e necessária.
Ele afirmou que a população havia sido ouvida e que o governador demonstrou “sensibilidade, responsabilidade e respeito pela nossa região”. O peso desse recuo era imenso, considerando a escala do que estava planejado: o trecho receberia um total de 37 pórticos de cobrança automática, dos quais cinco seriam instalados apenas em Amparo.
A alta densidade desses pontos de cobrança era o prinicipal da controvérsia, como contou o prefeito à CBN, pois levantava o temor de que os moradores deslocamentos cotidianos onerados de forma repetitiva.
A discussão sobre os novos pedágios no Circuito das Águas começou em março, quando o projeto de concessão do lote de rodovias estava em fase de consulta pública. O lote, que abrangia 533 quilômetros de rodovias, incluía tanto trechos já operados pela concessionária Renovias (que tem contrato que termina em abril de 2026) quanto vias atualmente sob gestão do Departamento de Estradas de Rodagem.
O projeto não era modesto. Ele fazia parte de um plano mais amplo que incluía também o lote Rota Mogiana (que abrange 19 cidades e 385 km de rodovias). Para essas duas concessões combinadas, a previsão de investimento total era de R$ 16 bilhões.
Em março, o governador Tarcísio de Freitas, ao falar sobre o assunto em Campinas, defendeu o projeto, afirmando que a cobrança de pedágios era a “única forma para reunir investimentos” necessários para modernizar e expandir a malha viária estadual. Naquela ocasião, ele já sinalizava que iria dialogar com os prefeitos e não descartava alterações no edital da concessão, reconhecendo o crescente calor da discussão.
O elemento que mais inflamou o debate foi a proposta de implantação do Sistema Automático Livre, popularmente conhecido como free flow, com previsão de início para novembro de 2026. O free flow é um modelo de pedágio moderno que utiliza pórticos e câmeras para fazer a cobrança automática, sem a necessidade de paradas em praças tradicionais.
Só que o que era visto pelo governo como modernização e justiça na cobrança, foi percebido pela população local como uma ameaça à rotina. Lauro Franco, que mora em Águas de Lindoia, disse que qualquer passeio ou simplesmente o fato de ir para outra cidade comprar alguma coisa diferente já ficaria mais caro
E a preocupação dos empresários era mais que evidente: perder turistas que todos os finais de semana lotam o circuito, fazendo com que a grande roda econômica gire e também o próprio fluxo de caixa, tendo que pagar a mais para receber os produtos que vendem.
Márcia Regina Poli atua com a produção de cafés especiais e há mais de 25 anos sai de Campinas e vai para Monte Alegre do Sul. Ela estava preocupada com a possibilidade dos pedágios.
A polêmica também atingia a Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304), entre Americana e Piracicaba, que também receberia pórticos do free flow, mas como parte da Rota Mogiana.
Em outubro, foi publicado o novo edital de concessão, que veio transformado. Parte da Rota Mogiana e do Circuito das Águas foram unidas, enquanto as rodovias do em torno de Amparo ficaram de fora do projeto de concessão por enquanto.
Se alguns pórticos foram retirados, na Rodovia Aziz Lian (SP-107), que liga Santo Antônio de Posse a Artur Nogueira, o pedágio permanece no plano.
A Rodovia Miguel Melhado Campos (SP-324), que não faz parte de nenhuma das regiões, e estava incluída na proposta original do Circuito das Águas, foi retirada.
A nova proposta prevê construção de terceira faixa na Rodovia SP-340 no trecho entre Campinas e Jaguariúna, e a própria duplicação da Aziz Lian. Em relação aos pedágios, não houve grandes mudanças nas praças já existentes. A principal alteração será no pórtico de Santo Antônio de Posse, que passará a operar no sistema “free flow”, com cobrança automática para todos os veículos.
O leilão está marcado para 27 de fevereiro de 2026, na sede da B3, em São Paulo.




