Lá se vão 33 anos desde que 3 de dezembro se tornou uma data para enaltecer o direito irrestrito à vida.
Criado pela Assembleia Geral da ONU, o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência ilumina uma comunidade formada por mais de um bilhão de pessoas no mundo, que têm algum tipo de deficiência, física ou intelectual.
No Brasil, a edição 2019 da Pesquisa Nacional de Saúde, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), estimou 17,3 milhões de brasileiros com dois ou anos ou mais de idade que apresentavam algum tipo de deficiência. Apenas entre os idosos, eram 8,5 milhões de brasileiros nesse grupo.
Nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, as entidades assistenciais têm um papel fundamental na promoção do bem-estar e na luta pela equidade de acesso.
Em Campinas, um guia de 2020 mapeou 28 instituições desse tipo, que fazem parte do chamado “terceiro setor”. São as entidades que defendem causas sociais, e trabalham para apoiar o primeiro setor (governos) e o segundo setor (empresas privadas).
Apoiar: um verbo fundamental para essa relação de troca. Não se trata de substituir ou assumir a responsabilidade do outro, mas de colaborar para que a vida de todos seja melhor. É o que nos conta Lúcia Decot Sdoia, presidente da Integra, uma associação que reúne entidades sociais da região de Campinas.
“É preciso reconhecer que Campinas conta com instituições profundamente competentes que acumulam conhecimento técnico e sensibilidade social. Porém, também é necessário destacar que sem políticas públicas sólidas, financiamento adequado e canais permanentes de diálogo com o poder público, nenhuma rede de apoio se sustenta”, observa.
A sensibilidade ajuda a enxergar e a fortalecer essa luta por direitos. Mas bom mesmo é colocar a mão na massa e ver o resultado nascer.
As 28 instituições de referência no apoio à Pessoa com Deficiência em Campinas têm muito o que contar. Na Casa da Criança Paralítica (CCP), por exemplo, a pessoa com deficiência motora aprende a caminhar por uma rota calçada chamada de protagonismo. É o que nos conta Regiane Fayan, coordenadora de projetos e mobilização de recursos da CCP.
“Ele envolve a reabilitação especializada pras crianças com deficiência física, adolescentes e jovens. E também o trabalho na oficina ortopédica, que confecciona órteses, próteses, além de consertar e adaptar cadeiras de rodas. Mas, sobretudo, nós atuamos para que cada pessoa com deficiência seja sujeito ativo na sociedade, participando, ocupando espaços e exercendo plenamente os seus direitos”, conta.
E falar em protagonismo da Pessoa com Deficiência não era sequer uma ideia quando a Fundação Síndrome de Down foi criada, há 40 anos. Tempo em que o estigma da deficiência intelectual era sinônimo de descarte do indivíduo. Uma das fundadoras, Lenir dos Santos, conta que muito avançamos, mas…
“Nós temos sempre um ‘mas’, porque as escolas nem sempre estão preparadas para poder realmente trazer resultados positivos no tocante à inclusão dessas pessoas na escola regular. Mas nem sempre os resultados e a participação da pessoa em sala de aula em todos os espaços da escola são, realmente, satisfatórios para poder atender as suas necessidades”, avalia.
O Thiago Magalhães sabe bem o que é lutar para ter um reconhecimento na sociedade, sendo Pessoa com Deficiência. Como instrutor de tecnologias assistivas no Instituto dos Cegos Trabalhadores de Campinas (ICCT), ele sonha com o dia em que a sociedade vai derrubar a principal barreira dos PCDs: a infantilização.
“Nós somos pessoas. Temos frustrações, alegrias, projetos de vida, qualidades, defeitos, enfim. Somos pessoas que a deficiência faz parte de nós. Agora o que pode ser melhorado? Muita coisa! Tanto acessibilidade arquitetônica, acessibilidade atitudinal. Porque, na prática, as pessoas não conseguem ver uma Pessoa com Deficiência fazendo uma coisa. Elas sempre vão pensar assim: ‘Nossa, você consegue encher um copo com água!’. Mas se a gente fizer alguma coisa mirabolante, elas sempre vão se admirar de a gente fazer. Que as pessoas consigam ver a gente de forma natural”, diz Thiago.
Mais do que um gesto de dignidade, proporcionar uma inclusão verdadeira à Pessoa com Deficiência é um olhar com carinho para o futuro da comunidade.
Leonardo Duart Bastos é psicólogo e pesquisador em temas de Saúde Mental. Hoje, ele é presidente do CEI Santi Capriotti, entidade que defende os direitos das pessoas com múltiplas deficiências. Hoje, ele é um estudioso do impacto social positivo que antecipa problemas sociais.
“Elas deixariam de ser possíveis pessoas em situação de rua, possíveis pessoas marginalizadas ou possíveis infratores no futuro. Se a gente consegue cuidar de uma forma adequada, a gente evita que a pessoa vá para esse mundo. O que acontece é que na rua, o uso de substâncias e todas as violências acabam sendo uma problemática muito maior do que a causa inicial da deficiência, e hoje com uma possibilidade de um diagnóstico assertivo e de um diagnóstico também cuidadoso, pode gerar uma qualidade de vida”, explica.
Pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em Campinas, uma porta de entrada para obter mais informações sobre a rede de atendimento para PCDs é o Centro de Referência da Pessoa com Deficiência.
O atendimento acontece de forma presencial, na Avenida Anchieta, 343, no Centro; por telefone, no (19) 2515-7275; ou pelo crpd@campinas.sp.gov.br.




