A população não demorou a sentir os efeitos da greve dos caminhoneiros. Poucos dias após o início da paralisação, alimentos, combustíveis e outros itens já começaram a faltar no dia a dia do brasileiro. Os números evidenciam a dependência do Brasil pelo transporte rodoviário. 75% da produção nacional têm escoamento por rodovias, segundo a pesquisa Custos Logísticos no Brasil, da Fundação Dom Cabral.
Dentre as principais economias do mundo, o Brasil é o país com a maior movimentação de cargas pelo modal rodoviário: 58% do transporte do país, somando-se carga e passageiros, é feito pelas rodovias. Em seguida vêm Austrália, com 50%, China, com 43%, Rússia, com 32%, segundo dados do Banco Mundial.
O especialista em Mobilidade Urbana do Mackenzie Campinas, Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, comenta essa dependência. “Estamos passando por algo que não deveríamos estar passando, e isso se deve à uma decisão de 70 anos atrás, quando sucateamos as rodovias.”
Para cada distância e cada tipo de carga há um modal que é mais apropriado. Porém, na prática, isso nem sempre é aplicado. “Não dá para a gente ficar fazendo transporte de caminhão por caminhão. Um vagão transporta o que equivale a três caminhões, só que um trem pode levar até 50 vagões, então teríamos 150 caminhões em um percurso só”. Embora o modal ferroviário seja apontado como a principal alternativa ao rodoviário, existem outros modais que poderiam ajudar na diversificação da matriz de transportes nacional, como marítimo, fluvial e também os dutos.
O especialista aponta que apesar da necessidade de diversificação, o modal rodoviário é importante na matriz de transportes de qualquer país. “Mesmo com ferrovias, hidrovias e dutos, a gente precisa do caminhão, mas não para percursos de milhares de quilômetros. Agora temos uma lição aprendida, diante disso a gente precisa diversificar principalmente agora que é um ano de eleições”.