A Leuginase, asparaginase chinesa usada para o tratamento da leucemia linfoide aguda no sistema da saúde pública do Brasil, não tem eficácia para combater a doença e ainda oferece risco para as crianças e adolescentes que fazem uso do medicamento. É o que aponta o teste realizado por pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O uso do medicamento no Brasil gerou polêmica desde o início do ano passado, quando o Centro Boldrini de Campinas, referência no tratamento do câncer infantil, não permitiu o uso do medicamento chinês que passou a ser disponibilizado pelo Ministério da Saúde.
Alvo de críticas do Conselho Federal de Medicina por não ter a eficácia comprovada e nem registro junto à Anvisa, a Leuginase chegou a ter a compra e distribuição proibidas pela Justiça Federal, atendendo recomendação do Ministério Público Federal. De acordo com os pesquisadores, os riscos associados ao uso da Leuginase podem ser caracterizados pela maior possibilidade de reincidência da doença. Ou seja, há 60% de chance da leucemia voltar depois do tratamento. Os pacientes que utilizaram o medicamento disponibilizado pelo governo antes de 2017, a Aginase, tiveram benefícios em termos de tratamento, com valores que demonstram atividade superior a 75%, enquanto que a droga chinesa tem valores ao redor de 2%.
Uma das principais críticas da adoção da Leuginase pelo Ministério da Saúde foi a presidente do Centro Boldrini de Campinas, Sílvia Brandalise. Ela disse que os resultados do teste não surpreenderam e acredita que o Ministério da Saúde cometeu um crime ao disponibilizar um medicamento que não tem nenhuma eficácia.
Até o início de 2017, os medicamentos distribuídos pelo Ministério da Saúde para o tratamento da leucemia linfoide aguda foram provenientes dos Estados Unidos e da Alemanha, que, segundo especialistas, tinham comprovado grau de eficácia e segurança, de até 80% de chances de cura nos grandes centros do Brasil. Em janeiro daquele ano, no entanto, o Ministério comprou a Leuginase, medicamento proveniente da China. O órgão não fez licitação, valendo-se da lei que permite a dispensa em caso de emergência ou calamidade pública. Foi feita uma pesquisa de preços entre quatro laboratórios estrangeiros e escolhido o produto chinês, que ofereceu o menor preço.