Filas de supermercado, lotérica, contas para pagar e horários a cumprir. Com as exigências do mundo adulto, a vida profissional acaba priorizada e o convívio familiar em segundo plano, de forma que o tempo dedicado às crianças é reduzido.
Esse momento de interação entre pais e filhos é fundamental em diversos aspectos, mas calma! Nem tudo está perdido. A convivência afetiva pode ser reestabelecida através de atividades culturais, como o teatro que, com seus diferenciais, proporciona à família acolhimento e sociabilidade da criança pequena.
A retomada da confraternização não é o único benefício proporcionado pela arte teatral. Se inserida com frequência na vida dos pequenos, viabiliza relacionamento favorável com os colegas, de forma que o conhecimento seja construído através da brincadeira e da descoberta dos espaços, o que torna as crianças mais participativas, responsáveis, dinâmicas e críticas.
Criança protagonista
Jean Piaget, o biólogo e psicólogo Suíço que colocou a aprendizagem no microscópio durante o século XX, defendia uma posição interacionista: na qual o conhecimento depende da interação do indivíduo com o meio.
Para a pedagoga Vanessa Karniol, uma vez inserida no contexto da peça, a criança é livre para manifestar emoções e sentimentos, e isso desperta o lado criativo.
Por esse motivo, uma peça montada especialmente para a primeira infância, deve considerar as fases de desenvolvimento da criança e garantir que ela interaja com o que é colocado.
O teatro para bebês surgiu na década de 80 na Europa, com maior expressividade na Bélgica e na Espanha. Com o desenvolvimento da prática, passou a repercutir em diversos países pelo mundo. Dentro desse movimento, a atriz e pedagoga Tamires Faustino decidiu escrever uma peça especial para o público que vivencia o início da primeira infância.
Hoje é dia de teatro, bebê!
O espetáculo “Um baú de barulhinhos”, da Cia Arte & Manhas, conta a história de Lili – uma menina curiosa que escuta barulhos diferentes saindo de um baú mágico.
A peça é totalmente interativa com o público, formado em maioria por bebês de 4 meses a 3 anos, que ajudam os personagens a descobrirem o que emite aqueles sons.
A apresentação é excepcionalmente delicada, e nela prevalece a experiência sensorial: repleta de sons, cores, movimentos, texturas, e até poesia!
“Um Baú de Barulhinhos” foi apresentado durante a programação especial gratuita de Dia das Crianças do Galleria Shopping, em Campinas. E não foram só os bebês que aproveitaram! Os papais e as mamães também se divertiram ao ver as descobertas e reações dos pequeninos.
Esta foi a primeira vez de Bernardo, de 5 meses, no teatro. Ele foi assistir a apresentação acompanhado do pai, Murilo Zapelini.
Já Willian Sigeren, pai do Lorenzo de 1 ano e 9 meses, ficou surpreso com a interação do filho com os elementos do show.
A publicitária Camila Salvetti conta que criou o hábito de levar o filho Luigi, de 4 anos, à peças teatrais e eventos artísticos.
O Theo, de 10 meses, teve a companhia do pai, Wagner Correia, e da mãe, Nathalia Correia, que consideram importantes os elementos musicais.
Uma produção específica para esse público tão especial exigiu trabalho duro e muita pesquisa. A autora, Tamires, conta que foram necessários quatro anos de preparo, até que o espetáculo fosse apresentado pela primeira vez.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, a educação e os cuidados na primeira infância podem melhorar o bem-estar das crianças em tenra idade, promovendo o desenvolvimento integral.
Mas a pergunta que surge é: os bebês entendem a peça que assistem? A pedagoga Vanessa explica que eles têm um modo singular de perceber o mundo, através da experiência sensorial.
Já dizia Albert Einstein, o mais célebre cientista do século XX:
“a criatividade é a inteligência se divertindo”
Ao ouvir essa frase, vem à nossa mente algo inédito e diferente. Mas a criatividade vai além disso. Desafios e situações-problema do cotidiano exigem recursos criativos para que tudo se resolva, e é por isso que especialistas associam a criatividade com a capacidade de solucionar problemas.
Criatividade é o melhor remédio
Pessoas criativas são mais flexíveis e tiram maior proveito de novas oportunidades. Um estudo realizado pela Fundação Botín, da Espanha, aponta que a educação com criatividade abundante na infância, pode aumentar em 17,6% as chances de uma criança ingressar no ensino superior. A pesquisa também mostra que o envolvimento com atividades criativas também amplia em 15,4% a probabilidade de engajamento em trabalhos voluntários, e eleva as chances da criança estabelecer amizades sólidas ao longo da vida em 8,6%.
Tratando-se de estímulo ao senso crítico e formação de indivíduos atuantes dentro da própria realidade com opiniões e sugestões, os dados mostram que a presença da criatividade desde cedo aumenta em 20% o interesse do jovem na participação política.
A cultura e as artes podem então encarregar-se de contribuir em peso na formação de adultos inovadores. E novamente parafraseando o brilhante Einstein:
“A mente que se abre a uma nova ideia, jamais retorna ao tamanho original”