Nesta semana, o repórter Henrique Bueno traz uma série especial de reportagens sobre o Maio Amarelo.
Não é novidade para ninguém que o álcool causa um efeito devastador no trânsito brasileiro, sendo responsável direto por grande parte das mortes registradas. Geralmente, o uso da substância está associado a outras condutas de riscos, como excesso de velocidade e o desrespeito à sinalização. O caderno de acidentalidade apresentado pela secretaria de saúde aponta que 48,5% das vítimas em 2020 estavam alcoolizadas no momento do acidente.
O que chama a atenção é que nem sempre é o motorista que está sob efeito do álcool. Na análise das vítimas mortas que testaram positivo no exame de alcoolemia, 44% eram motociclistas, 31% condutores dos demais veículos e 25% pedestres. Desse total, 56% tinham entre 30 e 59 anos de idade, o que refuta também a falsa percepção de que os mais jovens seriam um pouco mais irresponsáveis ao volante. Os acidentes que envolvem vítimas alcoolizadas, geralmente acontece aos finais de semana, totalizando 75% das ocorrências e no período da noite, com 94% dos casos.
A enfermeira do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas e responsável pelo comitê de análise de óbitos por acidente, Ana Paula Crivelaro Ferreira, disse que a falta de cuidado das pessoas consigo próprias e com terceiros traz consequências desastrosas no trânsito. “Infelizmente o álcool ainda se mostrou um grande pioneiro para todos os tipos de acidente. Tanto os envolvendo motociclistas, pedestres, veículos automotores. Não sei se é falta, diminuição ou a pouca responsabilidade que as pessoas têm consigo e com o próximo está trazendo consequências desastrosas”, acredita.
Essas consequências geralmente são graves, mas perfeitamente evitáveis. O chefe da ortopedia e diretor clínico do Hospital da PUC-Campinas, Carlos Mattos, afirma que grande parte dos pacientes que são atendidos na emergência da unidade se feriu em alguma situação que não precisava acontecer. Segundo ele, pessoas que vão para o trânsito após ingerir álcool ou que não respeita as leis são negligentes. “Não são sempre acidentes, porque acidentes você pensa numa coisa que é inevitável. Você está parado e vem alguma coisa que você não está esperando. As vezes um motorista de carro ou um motociclista que está acima da velocidade, que usou álcool, que não está dirigindo de uma forma adequada, isso não é um acidente. Isso é uma negligência, uma imperícia, algo que dá para evitar”, acredita.
E o álcool segue presente nas tragédias do trânsito, mesmo com toda a informação que existe a respeito. O uso da substância é alvo ano a ano de campanhas de conscientização e também em iniciativas como o Maio Amarelo. O presidente da EMDEC, Ayrton Camargo e Silva, afirma que mesmo diante de todo o conhecimento, as escolhas individuais predominam quando se analisa as estatísticas de acidentalidade. “Por mais que a gente tenha a busca pela segurança como um valor coletivo, como o Maio Amarelo externa. Por mais que a prefeitura invista nas boas técnicas da engenharia de trânsito, em sinalização e fiscalização, existe um momento dessa cadeia, um elo dessa cadeia, que são as escolhas individuais. A gente percebeu que boa parte das pessoas atropeladas, eram vítimas da alcoolemia. Elas estavam alcoolizadas. Sejam pedestres ou motoristas, os exames do IML mostraram. Então, vejam, é uma escolha individual”, revelou.
De todo o modo, o Brasil ainda não tem muita expertise na análise dos dados das condutas de riscos responsáveis pela violência no trânsito. O diretor-presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária, José Aurélio Ramalho, revela um dado ainda mais preocupante. Além de todas as consequências que o álcool traz para o trânsito, existe mais uma situação, associada ou não, que está colocando em risco a vida das pessoas: o uso do celular ao volante. “O Brasil ainda tem uma situação precária de acompanhamento de causas de acidentes. Mas nós do observatório temos acompanhado, principalmente nos últimos cinco anos, os principais fatores que são dois. O álcool sempre está no Top 03, vamos chamar assim. Mas hoje, o mais grave é o uso do celular. O uso do celular é tão ou mais grave do que o beber e dirigir. Porque ele te tira totalmente a atenção porque você está olhando o celular ou quando você está falando ao celular”, pontua.
De acordo com a Lei de Trânsito no Brasil, o condutor que for abordado e soprar o bafômetro com resultado acima do limite tolerado, será multado em R$2.934,70 e terá a suspensão por 12 meses do direito de dirigir. Em caso de acidentes com morte, o condutor embriagado poderá ser indiciado por homicídio e, se condenado, cumprir pena de cinco a oito anos de prisão.