A campineira Aretha Duarte é a primeira mulher negra latino americana a escalar a montanha mais alta do mundo, o Monte Everest. A montanhista passou 60 dias nessa expedição e contou como foi a experiência em entrevista ao Estúdio CBN.
“Posso afirmar que realmente é muito difícil descrever através de filme, através de imagem, de foto, tudo isso que eu vive lá. Eu tenho uma experiência de montanhismo de 10 anos né, mas o que eu vi lá nunca tinha ouvido, ninguém tinha me contado isso de maneira tão clara. Foi uma expedição muito especial, cuja duração foi de 60 dias na montanha, uma atividade muito longa, cheia de dificuldades: física, técnica e emocional.”
Para subir ao topo do Monte Everest, localizado na fronteira entre China e Nepal, a esportista precisou juntar aproximadamente R$ 400 mil, valor gasto com equipamentos, equipe, autorização do governo para a expedição e outros detalhes. A ideia teve origem em dezembro de 2019.
Para isso, foi necessário 1 ano e meio de muita luta e trabalho com reciclagem. Um terço do custo foi arrecadado com 130 toneladas de material recolhido. A própria infância de Aretha foi inspiração para esse processo.
“Na minha infância eu trabalhei com reciclagem, na minha adolescência. Sempre que eu quis adquirir alguma coisa e eu não tinha como, no caso da minha infância eu queria um brinquedo e meus pais não poderiam pagar, então eu juntei reciclável para conseguir comprar, no caso foi um patins. Na adolescência a mesma coisa, eu queria ajudar a minha mãe na compra de uma máquina de lavar e eu juntei material reclicável, porque ela trabalhava fora de casa e eu queria ajudar ela dentro de casa e no momento da decisão de escalar o Everest foi exatamente a mesma coisa.”
Em 10 anos como montanhista e aos 37 anos de idade, Aretha descreveu um dos momentos mais difíceis durante a subida ao topo do Monte Everest. Ela conta que o guia pensou em voltar parte do trajeto para depois retornarem juntos e concluir o último trecho do percurso. Já era madrugada e estava muito frio.
Esse momento foi emocionante a eles e a montanhista explicou que sem a parceria o trabalho não seria possível. Ela retornou e eles decidiram juntos retomar a caminhada.
“Eu entendi que pela experiência que eu tinha, naquela condição, madrugada, ele poderia em algum momento congelar os dedos, o pé e aquilo para mim seria a maior frustração da expedição. Então três passos depois eu pedi a ele, o nome dele era Passangui, pedi a ele ‘Passangui, Passangui’, eu já aos prantos, chorando, levantei a minha viseira, abaixei minha máscara de oxigênio, ele viu meu rosto aos prantos e eu falei a ele ‘Passangui, se a gente subir, eu chegar ao cume e você ficar doente, congelar o dedo, tiver qualquer problema, não valerá a pena, eu quero subir, mas a gente não vai subir nessa condição, eu quero descer, vamos descer.”
A montanhista afirmou que tem recebido muito carinho dos moradores de Campinas e região, ela que é natural do Jardim Capivari, localizado em Campinas. Aretha finalizou afirmando sua paixão pela modalidade.
“Esse é um esporte o qual eu sou apaixonada, só conheci na minha vida adulta durante a educação física. Antes disso, talvez por morar na periferia onde esse esporte ainda não é comum, não chega essa informação lá,.. É apaixonante.”