Combate ao racismo foca na transformação dos estereótipos

Foto: Ilustração/ Thaddeus Coates

A CBN traz nesta semana uma série de quatro reportagens com o tema Racismo do Dia a Dia, em alusão ao mês de novembro, quando se comemora a Consciência Negra. O dia 20 de novembro é de festa, mas também de luta por direitos e reconhecimento.

Esta primeira reportagem aborda a estrutura por trás dos estereótipos, como eles se perpetuam através dos séculos e por que é importante a mudança de paradigmas.

É comum que pessoas negras sejam comparadas a criminosos, sejam confundidas com funcionários dos estabelecimentos que frequentam, entre outras situações que as inferiorizam.

A mestre de cerimônias, apresentadora de eventos, e atriz, Luana Campos, de 35 anos, passou por essa situação recentemente em um shopping.

“Umas três pessoas me abordaram como se eu fosse funcionária do shopping. Um perguntou o horário de funcionamento, outro onde ficava o elevador, e outro onde ficava a saída. Depois que percebi que estavam me confundido com uma funcionária”, conta.

Luana Campos / Arquivo Pessoal

Luana percebe que é vista a partir de alguns estereótipos com frequência. Seja por ser chamada de mulata, com ênfase na hiperssexualização do corpo dela, independentemente do tipo de roupa que esteja usando, seja por subalternizar sua capacidade profissional ou intelectual.

Há pouco tempo, estava atuando como mestre de cerimônias em um evento do setor público em Campinas, e um assessor presumiu que ela estava lá apenas para levar água ao palco e não para comandar o evento. Mesmo após se identificar algumas vezes como mestre de cerimônias, o assessor não acreditou.

“Eu estava trajada como tal e me identifiquei como tal. Ele perguntou duas vezes quem era a mestre de cerimônias e eu disse, sou eu. Ah, mas você não é a menina que vai levar a água? E o responsável disse que não. Ah, mas e a mestre de cerimônias, eu disse sou eu”, relata Luana.

De acordo com a professora Dra. Lúcia Helena Oliveira Silva, pesquisadora com pós-doutorado pela Universidade de Nova Iorque, os estereótipos vêm da época da escravidão em que os negros eram considerados propriedades e serviam aos seus senhores, em especial, as mulheres como forma de iniciação sexual.

“Então vai adjetivar essas mulheres ligadas à sexualidade, boas de cama, como vai ligar também as pessoas que estão historicamente colocadas como escravizadas, como cara de doméstica, como cara de bandido, porque são as pessoas que estão sempre nesse grupo que historicamente por mais de três séculos ficaram às franjas da sociedade e foram a base de todo o trabalho para que essa população que era sua proprietária ganhasse dinheiro”, explica a especialista.

Lúcia Helena Oliveira Silva / Arquivo Pessoal

Esse é um problema arraigado na sociedade. A gerente comercial Melissa Santos, de 43 anos, mesmo com uma renda mensal de cerca de 15 salário mínimos, passou por esse tipo de situação quando foi morar em um bairro nobre da cidade. O filho dela, ainda bem pequeno foi expulso da quadra do prédio por um morador. Quando foi conversar com ele, o preconceito ficou bem explícito.

“Ele perguntou quem eu era lá dentro. Eu falei sou moradora aqui. Mas ele disse você não tem cara de moradora daqui. Você tem cara de que mora em outros lugares, menos nesse lugar. Você não tem prioridade aqui, quem tem prioridade é morador, eu expulsei seu filho sim”, relembra Melissa.

Lúcia Helena diz que esses estereótipos devem ser banidos, discutidos e colocados à luz da história, mostrando como essa construção evoca ao período da escravização, que ficou para trás depois de muita luta. E que as pessoas devem ser julgadas pela sua capacidade.

“Esse é o momento de a gente discutir isso e de repensar termos que a gente usa no dia a dia, para não usá-los mais, e para pensar nesses usos. Pensar também na branquitude, que é o privilégio de não ter esses problemas por ter nascido de outro grupo racial”, finaliza a professora.

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