Uma pesquisa realizada por três médicos oftalmologistas do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp aponta o impacto da pandemia da Covid-19 no acompanhamento de pacientes com glaucoma. Os dados mostram que de março de 2020 a fevereiro de 2021, houve redução de 92,52% nas consultas clínicas oftalmológicas ambulatoriais, 93,84% nos exames de campo visual, 72,74% nos procedimentos cirúrgicos e 19,63% nos medicamentos liberados.
A pesquisa, conduzida pelos médicos Gabriel Ayub, José Paulo Cabral de Vasconcelos e Vital Paulino, é a primeira no Brasil a medir impacto da Covid-19 nos atendimentos clínicos de uma doença crônica.
Segundo o levantamento, no período pré-pandêmico, março de 2019 a fevereiro de 2020 foram registrados 7.170 visitas clínicas (3.965 pacientes), 1.525 exames de campo visual (1.410 pacientes), 682 procedimentos cirúrgicos de glaucoma (466 pacientes) e 23.259 medicamentos liberados (813 pacientes). Já no período do surto de Covid-19, foram 532 visitas clínicas (514 pacientes), 94 exames de campo visual (94 pacientes), 145 procedimentos cirúrgicos de glaucoma (127 pacientes) e 18.692 medicamentos liberados (616 pacientes).
Esses números representam uma redução de 92,52% nas consultas clínicas ambulatoriais, 93,84% nos exames de campo visual, 72,74% nos procedimentos cirúrgicos e 19,63% nos medicamentos liberados.
O médico Gabriel Ayub, um dos pesquisadores, diz que é preciso avaliar as consequências dessa redução nos atendimentos.
“Quando a gente observa que 92% dos pacientes perderam segmentos nesse período, ou seja, só 8% nos nossos pacientes vieram pelo menos uma vez ao longo desse período, a gente pensa em quais consequências poderia ter, por exemplo, um aumento da pressão intraocular, que poderia levar a uma piora do glaucoma, uma progressão, uma piora visual”, explica.
O menor impacto foi na liberação de medicamentos, já que apenas 20% dos pacientes não retornaram à Farmácia de Alto Custo do HC para receber o medicamento prescrito.
O objetivo dos pesquisadores é que a Unicamp utilize os dados do levantamento para planejar o retorno.
“Nossa expectativa é que o HC utilize os nossos resultados para servir como base para o retorno, o que deve acontecer, segundo a própria instituição, em meados do ano que vem, com aumento da vacinação, queda no número de casos, queda de internações e de morte a gente consegue voltar a um patamar próximo do normal, dos atendimentos de glaucoma”, diz.
O levantamento, porém, não conseguiu avaliar o impacto clínico causado pela queda nos atendimentos.
“A gente ainda não consegue ainda saber qual vai ser o impacto real, ou seja, de quanto vai ser essa perda visual, quanto que os pacientes foram realmente impactados. O que a gente sabe é que foram impactados de alguma forma, por perda das consultas, por perda das cirurgias”, finaliza.
Com a redução dos casos de Covid-19, o HC está retomando suas atividades de atendimento de pacientes eletivos. A Coordenação de Assistência (COAS) do hospital liberou 20% dos atendimentos agendados no ambulatório de oftalmologia e as cirurgias voltaram ao normal.