Cinco das dezoito macrorregiões de Campinas são pântanos alimentares, ou seja, são territórios com alta oferta de alimentos ultraprocessados, como salgadinhos, biscoitos recheados e refrigerantes, e baixa oferta de produtos in natura, como frutas, verduras e legumes.
Essas cinco regiões abrangem cerca de vinte bairros, entre eles: Jardim Garcia, São Marcos, São Bernardo, Carlos Lourenço, Vila Lemos e os DICs.
As pessoas que vivem nessas regiões têm menos acesso a supermercados, feiras livres e agroecológicas, e mais chances de ter diagnóstico de câncer, diabetes, hipertensão e doenças gastrointestinais.
A conclusão é de um estudo do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Alimentação da Unicamp.
De acordo com a pesquisadora Ana Clara Duran, as pessoas que vivem em “pântanos alimentares” também têm menos acesso a serviços de saúde, transporte e lazer.
“Até feiras livres que são reguladas pelo poder público local – que é a Prefeitura que organiza, que define onde vai ter a feira – até essas são mais frequentemente encontradas nas regiões mais ricas da cidade. Inclusive, a literatura está começando a usar – ao invés de “pântano alimentar” – “apartheid alimentar”. Quando a gente fala em “pântano” parece que é uma coisa dada, e não é. É algo que foi construído pela nossa sociedade, uma sociedade desigual que não está acolhendo as pessoas que mais necessitam.”
A Prefeitura de Campinas informou que busca superar o desafio dos pântanos alimentares com serviços como o “Banco de Alimentos”, que fornece cestas básicas à população, e o projeto “Viva Leite”, que atende 2,4 mil crianças.
Além disso, a administração destacou que oferece o Cartão Nutrir, atualmente para 26 mil famílias.
Para Ana Clara Duran, a Prefeitura precisa fazer mais.
“O Banco de Alimentos é um instrumento que tem ajudado, mas não é suficiente. Aumentar o escopo do programa Nutrir é uma forma de tentar remediar a situação. Em termos de oferta, levar mais feiras de produtores para vender para essas famílias que não têm como se deslocar até o centro ou pagar o valor do centro.”
Ainda segundo a pesquisa, nas regiões onde há mais renda e menor percentual de moradores pretos e pardos existe maior concentração de todos os tipos de estabelecimento em comparação com as regiões mais vulneráveis.