Um estudo realizado em parceria por pesquisadores da Unicamp e da Universidade Johns Hopkins (EUA) buscou detalhar os efeitos da covid-19 a longo prazo sobre o sistema cardiovascular de pessoas que tiveram a doença.
O estudo buscou sintetizar as pesquisas já desenvolvidas que associavam a covid-19 com doenças vasculares. No total, 107 artigos considerados confiáveis e sólidos foram localizados em plataformas especializadas, e a análise deles indicou que a infecção pelo SARS-CoV-2 compromete as células do endotélio, camada celular que reveste os vasos sanguíneos e é responsável pela regulação do sistema vascular. Isso prejudica funções importantes, como o transporte de oxigênio e o controle da pressão arterial, além de facilitar a formação de coágulos.
O artigo, de 2021, teve como autores Thiago Quinaglia, pesquisador de pós-doutorado no Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, e que na época era pesquisador da Johns Hopkins, e Andrei Sposito, professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e coordenador do Centro de Pesquisas Clínicas (CPC) da Unicamp. Sposito relata que a descoberta expôs acontecimentos inesperados. “É uma condição chamada covidcardia, então essa parte dessas sequelas se arrastam, e no primeiro ano pós-covid, o ano inteiro, o indivíduo ainda tem um risco de infarto muitas vezes mais alto, então não é mais uma manifestação aguda como tínhamos visto no início, e isso sim nos surpreendeu, não imaginávamos que cessada a doença aguda, houvesse um retorno à normalidade”.
A conclusão de que o comprometimento do sistema vascular decorre da infecção pelo SARS-CoV-2 abre caminhos para tratamentos mais eficientes. Mas o primeiro passo é que o paciente identifique se ele pode sofrer de tal condição. “Nós entendemos hoje que esse processo inflamatório intensifica uma doença pré-existente e ele persiste por algum tempo, e isso requer cuidado, e se tiver uma manifestação compatível com isso, como dor no peito que migra pro braço, uma falta de ar de início súbito, pense na possibilidade de ser uma doença cardiovascular, mesmo que seja uma pessoa com menos de 50 anos, 40 anos de idade, pois isso é o que temos observado”.
Pacientes de idades mais baixas que o habitual também chamaram a atenção dos pesquisadores. “O infarto tipicamente acontece em torno de 55, 60 anos de idade, e o que temos observado ultimamente são indivíduos com menos de 50 anos enfartando, de 38, 39, 40 anos, o que não era uma coisa típica , e a covid com certeza está contribuindo para esses infartos em indivíduos mais jovens”. Mas Sposito ressalta que, além da covid, outros fatores, como obesidade e o uso de drogas, também contribuem para o aumento de infartos entre pessoas mais jovens.