Após o Ministério Público afirmar que a negligência da Prefeitura de Campinas no manejo de árvores provocou as duas mortes em parques, e pedir uma indenização de R$ 1 milhão, o pesquisador da Embrapa/Meio Ambiente, Ivan André Alvarez, disse em entrevista à CBN Campinas que é uma unânimidade entre os técnicos da área que é necessário um sistema de informação que possa conhecer as árvores e assim prevenir possíveis novas quedas. “A própria lei de arborização urbana do município, de 2003, prevê que em 36 meses, desde que promulgada a lei, se fizesse esse inventário e isso não foi feito. Então nós temos uma lei desde 2003 que não foi cumprida, e os reflexos estão aí. Então quando você tem uma prevenção, quando você tem um planejamento, aí você faz o manejo segundo esse conhecimento, você pode prevenir.”
Ele reconhece que existem fatalidades, mas afirma que no caso da árvore que caiu no Bosque dos Jequitibás, as análises apontam que já havia o risco de queda.”Houve ao longo do tempo um manejo na calçada que não dá pra se dizer exatamente se prejudicou a árvore, mas havia aspectos externos, que dá pra ver até pelo Google Street View, que essa árvore já apresentava algum tipo de indicativo.”
A Prefeitura de Campinas argumenta que a figueira estava saudável, e cita laudos assinados pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Instituto Biológico e Instituto Agronômico de Campinas, e afirma que a queda se deu pela condição atípica do tempo, com ventos fortes e excesso de chuva.
Em relação aos laudos, o pesquisador afirma que não há contradição entre eles, mas que cada órgão analisa uma parte específica. “Analisaram parcialmente cada um na sua função, dizendo a árvore está saudável sobre esse aspecto. Por exemplo, o Instituto Biológico falou do ponto de vista de ataque de pragas, ataque de doenças, etc. O IPT analisou sobre uma condição que era da estabilidade. Porém, a questão biomecânica, ela foi de fato estudada pela Unicamp, que demonstrou que aquela árvore estava, sim, apresentando uma falha, e uma possível queda.”
O pesquisador criticou ainda uma falta de diálogo por parte da Prefeitura com técnicos que não sejam ligados à administração municipal. “Eles não querem, simplesmente isso. Eu sou enfático em dizer isso, porque não querem. A gente participou na Câmara dos Vereadores de uma comissão, a Embrapa, a Unicamp, vários técnicos que estão disponíveis na cidade, professores apresentados da Esalq, membros da sociedade civil, todos se colocaram para ajudar, mas não há essa aderência.”
Segundo o pesquisador, um inventário é algo pedido pelos técnicos há cerca de 15 anos, e isso ajudaria no trabalho da Prefeitura para lidar com árvores que apresentam problemas, podendo contar inclusive com a participação da população, dinamizando o trabalho.
