Retrospectiva: Campinas registrou furto milionário de medicamentos contra o câncer em 2024

Foto: Polícia Civil

Ouça a reportagem na íntegra

No dia 4 de janeiro de 2024 os funcionários da farmácia judicial do Departamento Regional de Saúde 7 de Campinas notaram a falta de um medicamento utilizado no tratamento do câncer. Se tratava do Pembrolizumabe, um imunoterápico usado no tratamento contra vários tipos de cânceres. As equipes notificaram a polícia no mesmo dia sobre o furto de medicamento. 

Os funcionários explicaram para a polícia que os atendimentos pararam no dia 27 de dezembro de 2023, por causa do recesso de final de ano. Quando eles retornaram, em janeiro de 2024, as 79 caixas dos medicamentos não estavam armazenadas na geladeira. 

As caixas dos remédios seriam destinadas para pacientes que tratam vários tipos de cânceres. Cada caixa do medicamento custou aos cofres do governo R$14.401,35, sendo R$1.137.706,65 de prejuízo. 

Após a denúncia, a polícia foi até o Departamento Regional de Saúde para verificar imagens de câmeras de segurança. Uma delas estava quebrada e a outra encoberta pelas caixas de medicamentos. Durante a investigação da polícia no local, um funcionário saiu pela porta da frente com uma sacola cheia de medicamentos. Mas até então, as equipes não tinham visto o circuito de segurança. 

No dia 5 de janeiro, um dia após o comunicado à polícia, as equipes prenderam o funcionário público José Carlos dos Santos, de 61 anos, apontado como o responsável por desviar os produtos. O delegado de polícia da DEIC de Campinas, Elton Costa, conta que o homem não ficou intimidado com a presença da polícia no local. 

O delegado Fernando Bardi, explicou que a investigação mostrou que o homem tinha contato direto com o estoque, por isso a facilidade em retirar os remédios. Segundo a polícia, a família de José Carlos também tinha participação no esquema. Na casa da enteada do funcionário foram encontradas caixas de isopor onde os medicamentos eram armazenados.

Michel carvalho, marido da enteada de José carlos, era o responsável por encontrar receptadores. Ele é apontado como a cabeça do esquema, encarregado de convencer a esposa, a sogra e o sogro, que trabalhava na regional de saúde há 20 anos, a cometer os crimes. A esposa do funcionário público, Maria do Socorro, atuava recebendo os pedidos de Michael. 

Enquanto a filha de Maria do Socorro e enteada do funcionário público, Gabriella Carvalho, era responsável por guardar e despachar o remédio para outros estados. Em imagens de câmeras de segurança é possível ver Gabriella e Michael levando um pacote em empresa de logística aérea que seria destinado ao Espírito Santo. Logo após, o casal postava fotos nas redes sociais do local. 

A investigação da polícia também mostrou que a família teve uma grande movimentação financeira nas contas, mudando até o padrão de vida. Em conversas entre Maria do Socorro e Michael, é possível perceber que a mulher tinha planos com o dinheiro dos medicamentos. 

Segundo a polícia, o grupo desviava medicamentos há pelo menos um ano. Os compradores dos remédios desviados, segundo a corporação, eram Juliana Ritter Lopes e Gleidson Lopes Soares. Eles dirigem uma ONG de apoio a pessoas com dificuldade de locomoção em Serra, no Espírito Santo. A polícia rastreou transferências bancárias entre as contas da empresa de Juliana para Maria do Socorro.  

Um carro de luxo também apontou uma ligação entre o grupo. O veículo que era usado por Michael e Gabriella era registrado no nome de Juliana.  

No dia 7 de novembro o grupo criminoso foi condenado pelo desvio dos medicamentos. A sentença apontou que Juliana Ritter realizava os pagamentos dos medicamentos e entrava em contato com os destinatários finais, como clínicas e hospitais. Enquanto Gleidson mantinha contato como comprador e receptador. Ele negociava com Michael os medicamentos que seriam furtados. 

A investigação apontou que Michael também vendia medicamentos para terceiros e chegou a anunciar em uma plataforma on-line. 

Os réus foram condenados por peculato e organização criminosa e os medicamentos foram descartados por terem sidos armazenados incorretamente. 

Entenda as penas dos condenados:

José Carlos dos Santos – Servidor público da farmácia judicial – condenado a perda do cargo, 12 anos e um mês de reclusão e 53 dias-multa.

Maria do Socorro – condenada a 12 anos e um mês de reclusão e 53 dias-multa.

Gabriella Carvalho – condenada a 12 anos e um mês de reclusão e 53 dias-multa.

Juliana Ritter – condenada a 12 anos e um mês de reclusão e 53 dias-multa.

Michael Carvalho – condenado a 14 anos e sete meses de reclusão e 62 dias-multa.

Gleidson Lopes Soares – condenado a 18 anos e dois meses de reclusão e 77 dias-multa.

Até a última atualização desta reportagem, Gleidson Lopes Soares e Juliana Ritter continuam foragidos da Justiça. Os outros quatro acusados estão presos.

Defesa do grupo

A defesa de José Carlos, Maria do Socorro e Gabriella Carvalho negou que eles tenham furtado os medicamentos contra o câncer, mas reconheceu que josé desviou alguns medicamentos do Sistema Único de Saúde (SUS).  

Já a defesa de Gleidson e Juliana reforçou a inocência do casal alegando que eles não sabiam que os remédios vendidos eram desviados. Eles vão recorrer da decisão. A defesa de Michael não foi localizada. 

A Polícia Civil ainda investiga o caso para esclarecer quem eram os compradores finais dos medicamentos e o quanto o casal de Serra lucrava com o esquema.

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