A implantação das reformas estruturais, como a da Previdência, já aprovada, Fiscal e Tributária – que começam a ser discutidos pelo Congresso Nacional – além de mudanças para melhorar o ambiente de negócios – pode atrair investidores internacionais nos próximos anos. Nos últimos dez anos, as ações brasileiras perderam um enorme espaço para outras regiões, especialmente a China. Enquanto o gigante asiático apresentou crescimento, a economia local patinou: entrou em crise, enfrentou o impeachment e frustrou investidores, sem clareza de agenda econômica e sem estabilidade política. Agora, porém, o cenário parece outro, segundo gestores ouvidos pelo Valor.
Recentemente, a BlackRock, maior gestora global de ativos, com US$ 6,52 trilhões, identificou um fluxo positivo para o fundo de índice (ETF) ligado ao Brasil e administrado pela casa, o iShares MSCI Brazil, ou EWZ, afirma Axel Christensen, estrategista-chefe para América Latina da casa. Ele afirma que ainda não é possível atestar a consistência desse movimento, mas o dado mostra que qualquer melhora do cenário internacional permite um fluxo para Brasil, dada a história do país, seu tamanho e relevância.
Já um levantamento recente do BTG Pactual mostra o tamanho da perda de interesse em Brasil desde 2009. Naquele ano, o país liderava a alocação de toda a indústria de fundos dedicados a mercados emergentes, com fatia de 16,7%, contra 15,3% do segundo colocado, a China. Hoje, o país asiático detém uma fatia de 27,1%, líder nas carteiras dedicadas a emergentes, enquanto o Brasil caiu a 8,3%, atrás de países como Taiwan, Coreia do Sul e Índia.
Ainda de acordo com o BTG, a partir de dados da consultoria EPFR, fundos internacionais de vários tipos já retiraram US$ 1,02 bilhão em 2019 da renda variável local, até agosto, a primeira saída em quatro anos. A última vez que o Brasil havia sofrido um saque líquido, em 2015, viu uma retirada de US$ 3,73 bilhões das ações.
Nos cálculos da B3, o estrangeiro permanece bem longe das ações brasileiras no ano até hoje, mas uma trégua no ambiente de aversão a risco no exterior foi o bastante para o fluxo voltar a melhorar nos últimos pregões. Entre os dias 21 e 23, nas sessões em que o Ibovespa renovou recordes, os estrangeiros colocaram R$ 1,43 bilhão no mercado secundário. Mesmo considerando a entrada em ofertas de ações, de R$ 25,94 bilhões no ano até agora, o fluxo externo total segue negativo em R$ 4,92 bilhões.
Caso o cenário base da maioria dos analistas se confirme e o mundo não entre em recessão, o Brasil deverá ter certa vantagem entre os países latino-americanos. Mas, para isso, a disputa comercial entre China e Estados Unidos precisa caminhar para uma resolução, diz Jack Janasiewicz, estrategista-chefe de portfólio do Natixis Investment Managers. “Se a economia global começar a se recuperar, os investidores provavelmente verão o Brasil como o mais favorável da América Latina. Um retorno ao risco certamente beneficiaria o Brasil em relação a outras oportunidades na região”, diz.
Para comentar este cenário, o quadro Panorama Empresarial falou com Carlos Franco, mestre em Economia pela Universidade de São Paulo (UPS) e empresário. “Antes da grande crise internacional de 2007 e 2008, o Ibovespa estava em 70 mil pontos, o Dow Jones (índice americano) estava em 13 mil pontos. Passados doze anos, o Dow Jones está em 26 mil pontos. Isso projeta que o Ibovespa deveria estar o dobro do que está, em 140 mil”, explica Franco, ressaltando que as ações brasileiras estão muito abaixo do que deveria estar.
Ele pondera, ainda, um outro quadro, ainda pior. Segundo ele, se for considerada a variação do IGPM nestes doze anos, que foi de 108%, o Ibovespa não deveria estar em 140 mil, mais sim em 280 mil. “Este é o indicador, comparando com a tendência internacional, principalmente com os Estados Unidos, a gente deveria estar em 300 mil e estamos em 100 mil”, calcula.
Em seus cálculos, as ações brasileiras estão entre 33% e 40% do valor real, o que mostra que elas ainda possuem um caminho enorme para crescer. “Isso quer dizer que nossas ações estão muito baratas”, lembrando que são ações boas, tops, como bancos, Petrobrás, dentre outras. “Hoje nossas empresas estão muito mais musculadas, prontas, como Magazine Luiza e todo o setor varejista, que já está apontando recuperação”.
Texto: Marcelo Oliveira – Comunicação Estratégica Campinas – Assessoria de Imprensa do BNI Planalto Paulista