Entrevista: Leandro Las Casas e Marco Guarizzo
Texto: Leandro Las Casas, Henrique Bueno e Marco Guarizzo
Ainda falta muito para o Brasil se tornar uma potência olímpica mundial. Porém, a cada ano olímpico, os resultados aparecem em diversas modalidades. O país conquistou respeito mundial em modalidades como natação, judô, vôlei e outras. E coincidentemente, o futebol masculino, esporte mais popular do país, só chegou ao lugar mais alto do pódio na última edição dos jogos, realizada no Rio de Janeiro, em 2016. Ainda assim, grande parte de empresas e anunciantes opta por se associar ao futebol, independentemente de resultados. E atletas olímpicos, campeões ou não, sofrem para conseguir o mínimo para se manter nas competições. E é nesse cenário que Danielle Schneider atua como diretora da Agência de Atletas, buscando patrocínio para representantes de modalidades com potencial olímpico. Só que não é fácil.
O domínio do futebol
O ciclo olímpico começa assim que uma Olimpíada termina. O atleta batalha por longos quatro anos para conseguir estar presente na próxima edição, mas nem sempre esse resultado é rápido. Muitas vezes a classificação vem no último momento, meses antes da competição. E somente neste período olímpico, é que a movimentação em relação a patrocínio acontece. “No Brasil, infelizmente, as grandes marcas, as empresas maiores conseguem enxergar esses atletas apenas entre os Jogos Pan-Americanos e as olimpíadas, ou seja, em um período que pode ser menor do que um ano. Claro que há exceções, mas não é comum”, afirma Daniele.
O papel exercido pela TV nas transmissões esportivas também impacta demais na busca por patrocínios. Obviamente, por interesse do público e a consequente demanda de audiência, o futebol domina o cenário. “Até quando estamos em intervalos de temporadas, o futebol domina 90% ou mais das programações dos canais esportivos. Parece que vira programa de fofoca, sobre a possibilidade de transferência de jogadores”, diz. Ela vai além e afirma: “TV é um complicador. Não só a TV, como os programas esportivos que atuam desta maneira”, reclama.
Além disso, o posicionamento das empresas precisa ser revisto. Os empresários precisam entender como eles podem ganhar associando sua marca a atletas de outras modalidades. “Ele tem que entender que não é apenas ligar a imagem de atleta campeão à sua empresa. É também a persistência, o respeito, a disciplina. São muitas as possibilidades. Não é só colocar a sua marca no uniforme do atleta. São várias ações que podem ser feitas para que você atinja seu público”, acredita.
Posicionamento da mídia
Nem mesmo nas modalidades que têm um amplo domínio brasileiro, como o vôlei, por exemplo, parece sinalizar para uma mudança de postura midiática. O esporte reúne dezenas de títulos de expressão, seja em quadra ou areia, masculino ou feminino, e, nem mesmo assim, as coisas parecem caminhar. Daniele Schneider não entende porque essa metodologia não muda. “O circuito do vôlei de praia no Brasil foi reduzido. Os horários de transmissão não ajudam e prejudicam o acompanhamento”, opina.
Ela reforça uma crítica que atletas e agremiações esportivas fazem contra certos posicionamentos de empresas de comunicação detentoras de direitos de transmissão no Brasil: de não dizer o nome da equipe ou time de patrocinadores. “Não falar o naming rights beira a infantilidade. Você vê o que a Red Bull tem feito pelo esporte e não tem o nome de suas equipes faladas nas transmissões pela TV”, explica.
Daniele Schneider também relata a diferença entre patrocínios para atletas homens e para mulheres. Os valores são muito diferentes. “É importante ter uma atleta como a Marta, para dar visibilidade às mulheres no esporte. Mas é nítido, no mundo todo, que patrocínios e premiações nas modalidades femininas são muito menores do que o masculino”, finaliza.