Entrevista: Leandro Las Casas e Marco Guarizzo
Texto: Leandro Las Casas e Marco Guarizzo
O compositor e marcheiro, Thiago de Souza, não se incomoda em tratar de assuntos como a vaidade dos autores dos sambas-enredo, o estigma que ainda marca os sambistas atualmente, ou o sumiço das composições das escolas das rádios e da grande mídia. “O samba de enredo hoje se transformou em trilha para o desfile. E isso faz com que a pessoa precise ter vivência. Muitos carnavalescos elaboram desfiles que fazem mais sentido quando você assiste do que quando escuta”, opina.
Além de compositor, Thiago acumula passagens por diversas funções em escolas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Ele já foi diretor musical e de ala e conhece bem o que acontece dentro, fora e nos bastidores das quadras, dos barracões, ensaios e avenidas. Por isso diz que o preconceito sempre perseguiu a festa, o ritmo e as pessoas que fazem o carnaval. “Vem da carga social negativa por ser uma cultura que emana do povo. E do povo pobre, principalmente”, defende ele.
Por esse motivo, faz questão de citar o racismo nessa equação, por conta da presença maciça de comunidades e favelas na formatação da celebração que existe hoje. Porém, também não deixa de ponderar sobre a ligação que muitas pessoas fazem com o crime organizado e com a figura dos bicheiros. “As pessoas não conseguem associar com as ações culturais desenvolvidas e aí as escolas ficam marcadas pelas atividades criminosas de alguns patronos, que não estão em todas as escolas”, lamenta.
O marcheiro, que mora em Campinas e vive entre São Paulo e Rio, também pede licença pra quem é do ofício e da formação e faz alguns resgates históricos necessários sobre o passado. Em um deles, explica a origem da ala das baianas. “Tinha a baiana Tia Ciata que protegia o samba. Então, por isso é importante e a gente faz uma homenagem em todas as escolas. É um item obrigatório em todos os desfiles “, conta ele, que atualmente defende as cores da Dragões da Real e está no páreo no carnaval paulista de 2020.
Thiago de Souza, aliás, deu seu parecer sobre as escolas com origens ligadas às torcidas organizadas, lembrou de grandes e aclamados sambas e comentou as diferenças entre RJ e SP. Além disso, elogiou a politização das letras e contou uma série de curiosidades e histórias engraçadas e de bastidores. Uma delas, envolvendo ninguém mais, ninguém menos, que Neguinho da Beija-Flor (veja o vídeo abaixo).